Título: Palocci defende decisão do Copom
Autor: Rodrigo Bittar
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2004, Finanças, p. C-1

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, afirmou que confia "integralmente" na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a taxa básica de juros (Selic) em meio ponto percentual na última quarta-feira, para 16,75% ao ano. Segundo o ministro, "as atas (do comitê) têm sido muito claras e o Banco Central tem sido absolutamente transparente nas suas políticas e muito claro nas decisões". O ministro fez o comentário, ontem, ao chegar ao Ministério da Fazenda. Mais tarde, em reunião com o presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, Palocci explicou que o foco do Banco Central neste momento não é a inflação de curto prazo, mas as taxas futuras. "Ele (o ministro) disse que pretende fazer agora o que poderia ser feito no futuro, mas com impacto mais negativo", relatou Godoy. "Então, essa gestão da política monetária é para evitar constrangimentos da inflação no futuro. O governo tenta fazer uma correção agora para que depois não tenha problemas", acrescentou. Se dirigindo aos jornalistas, o empresário salientou que "vocês sabem muito bem que há uma incerteza com relação aos combustíveis e o comportamento dos preços do petróleo. Então, (a decisão de elevar os juros) é uma medida segura para que as medidas posteriores não sejam mais rudes". Godoy também relatou que o ministro não trabalha com uma projeção de alta nos juros por um período longo. "Ele fez uma projeção e não acha que a trajetória de juros tenha que ser, necessariamente, ascendente. É uma correção momentânea e o ministério trabalha com a possibilidade de redução", assegurou. Não é comum o ministro opinar publicamente sobre as decisões do Copom num prazo tão curto. Palocci costuma esperar a divulgação das atas para se pronunciar, mas há tempos que ele alerta para os riscos da inflação futura e do preço internacional do petróleo. A ata da última reunião do comitê está prevista para ser divulgada quinta-feira. No breve comunicado divulgado logo após a reunião, o Copom afirmou que a alta de juros deu "prosseguimento ao processo de ajuste moderado da taxa de juros básicos", o que para alguns analistas sinalizou a possibilidade de novos aumentos da Selic nos próximos meses. Apesar de os contratos futuros de juros terem subido, ontem, alinhando-se à decisão do Copom de elevar a taxa Selic para 16,75% ao ano, os bancos não esperam impacto significativo no custo do crédito. É que o mercado futuro de juros, parâmetro do juro do crédito, já vinha em alta nas últimas semanas. O Bradesco informou que vai manter as taxas inalteradas. O crédito, disse o vice-presidente do Banco Sofisa e diretor da Associação Brasileira dos Bancos (ABBC), André Jafferian Neto, não é muito influenciado pela Selic. As linhas para pessoas jurídicas são mais afetadas pela sinalização do mercado futuro; já as taxas para pessoas físicas, principalmente no cheque especial, crédito pessoal e cartão de crédito, têm um spread tão amplo que é insensível a pequenos movimentos. Esses juros, acrescentou, têm mais influência da inadimplência, custos administrativos dos bancos, nível de atividade econômica e concorrência.