Título: Crescimento débil demoveu o BC
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 24/06/2005, Finanças, p. C1

Política Monetária Em ata, Copom reconhece o recuo da economia e pára de aumentar a Selic

ata da reunião de junho do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, renova a indicação - feita em meses anteriores - de que os juros ficarão no patamar atual por um "período suficientemente longo de tempo". Mas o documento traz duas indicações importantes: o crescimento econômico no primeiro trimestre ficou abaixo do esperado pelo BC, e o fraco desempenho dos investimentos nos dois últimos trimestres passou a ser considerado um fator de risco. O Copom ratificou o entendimento sobre a inflação que já havia se tornado consensual no mercado: os índices da variação corrente de preços e os núcleos, embora ainda acima do percentual ideal, apontam para a convergência para a meta. "Houve uma redução na persistência de focos localizados de pressão inflacionária corrente", diz o documento. "Reduziram-se, em relação a maio, os riscos a que está submetido o processo de convergência da inflação para a trajetória das metas." No documento, o Copom também repete o alerta (como em documentos anteriores) de que, se a inflação voltar a subir, irá adequar a política monetária às circunstâncias - declaração que, mais do que apontar um risco latente na inflação, tem o objetivo de não comprometer a autoridade monetária com nenhuma trajetória para a taxa básica de juro. Uma das indicações mais importantes do documento, porém, é que o crescimento da economia no primeiro trimestre ficou abaixo do previsto pelo BC. Isso não é dito diretamente, porém. A informação é depreendida a partir do trecho em que o Copom diz que as projeções inflacionárias para 2005 melhoraram em virtude, entre outros fatores, da "atualização da medida do hiato pela incorporação de dados das contas nacionais do primeiro trimestre de 2005". Traduzindo: como a atividade cresceu menos do que o esperado, reduzem-se os riscos de a economia bater no teto da capacidade. O dado mais preocupante é quando o Copom se refere aos investimentos, que sofreram queda no último trimestre de 2004 e no primeiro trimestre de 2005. O assunto não é exatamente novo: em atas anteriores, o BC assinalou que considerava normais eventuais oscilações do crescimento do investimento, depois de forte expansão em 2004. Mas se mostrava seguro de que esse componente da demanda agregada voltaria a crescer, já que seus indicadores antecedentes, como o risco-país e uso da capacidade instalada, apontavam claramente para uma recuperação. Na ata de junho, embora ainda mantenha uma espécie de pensamento positivo sobre o assunto, o BC deixa claro pela primeira vez que o fraco desempenho dos investimentos passou a ser um tema relevante para as perspectivas futuras de a inflação. "Embora pareça pouco plausível que a acomodação recente no ritmo de investimento persista, um foco importante de preocupação em relação à dinâmica prospectiva da inflação continuará sendo o desempenho da oferta agregada nos próximos trimestres", diz a ata. O quadro é ligeiramente diferente do observado em meados de 2004. Naquela ocasião, os investimentos estavam bastante acelerados - o que garantia bons prognósticos para a ampliação da oferta agregada -, e o que preocupava era a evolução da demanda agregada. Agora, com a demanda agregada evoluindo abaixo do esperado, o que preocupa é a perspectiva ainda incerta para a oferta agregada. As projeções do BC para a inflação para 2005 e 2006 só serão conhecidas na semana que vem, com a divulgação do relatório trimestral de inflação de junho. Mas, na ata, o BC deu indicações de que houve melhora. Para este ano, a projeção permanece acima do objetivo de 5,1%, mas recuou. Pesou favoravelmente, além de um crescimento menor do que o esperado no primeiro trimestre deste ano, uma inflação mais baixa que a projetada para maio e a queda das expectativas de inflação do mercado. Houve queda também na projeção de inflação para os 12 meses encerrados em março de 2006. Permaneceram constantes os índices para os 12 meses que terminam em junho, setembro e dezembro de 2006. Nesses períodos, porém, os índices projetados já estavam abaixo da meta anual (no caso de dezembro) e da trajetória das metas. Do documento, destacam-se apenas dois pontos que podem ser entendidos como negativos. Um deles é a exacerbação das pressões sobre o preço do petróleo. "É importante assinalar que esse aspecto mais desfavorável passou a representar um risco maior para a trajetória futura de inflação", diz a ata. Outro ponto negativo é que o Copom elevou, de 5,1% para 5,7%, sua expectativa para o reajuste de preços administrados por contrato. A diferença se deve ao fato de que, até agora, o BC vinha estimando o aumento de preços administrados com base em modelos matemáticos e estatísticos. Agora, o BC passou a prever alguns dos preços individualmente.