Título: Busca de diálogo com lados opostos
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 17/03/2010, Mundo, p. 19

Oriente médio

Lula é recebido por israelenses e palestinos e defende pressa na negociação entre os povos

Em sua passagem pelo Oriente Médio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está vendo de perto como é difícil agradar a israelenses e palestinos. Ontem, em seu último dia de visita a Jerusalém, foi abertamente criticado pelo chanceler israelense, Avigdor Lieberman, por não ter visitado o túmulo do fundador do sionismo, Theodor Herzl. Do lado palestino, Lula foi cobrado pelo grupo islâmico Hamas por não incluir a Faixa de Gaza na viagem presidencial, enquanto a ONG Stop the Wall (Detenha o Muro) pediu que o brasileiro rompa as relações comerciais com Israel. O Brasil deverá decidir entre negociar com Israel e suas armas ou posicionar-se ao lado dos palestinos, dos direitos humanos e da democracia e cortar as relações militares com Israel, afirmou o ativista Jamal Juma. Lieberman apesar da crítica e do boicote à reunião no Parlamento e ao jantar oferecido a Lula elogiou a viagem do presidente a Israel. A visita foi um sucesso, com encontros bem-sucedidos e frutíferos, disse o chanceler, ressaltando que existem regras do Ministério do Exterior que devem ser respeitadas. (As autoridades brasileiras) recusaram-se a visitar o túmulo de Herzl desde o começo. E um homem que se nega a visitar o túmulo de Herzl e vai depositar flores no túmulo do (líder palestino Yasser) Arafat é coisa que não posso aceitar, completou. Lula visitaria o túmulo de Herzl, mas o compromisso, segundo o Itamaraty, não foi incluído na agenda por falta de tempo. Durante o dia, o presidente foi ao Museu do Holocausto (Yad Vashem), criado para lembrar o genocídio de 6 milhões de judeus pelo regime nazista de Adolf Hitler na Segunda Guerra, entre 1939 e 1945. A humanidade deve repetir todos os dias, quantas vezes for necessário, nunca mais, nunca mais, nunca mais, destacou Lula, depois de depositar uma coroa de flores em memória das vítimas. Eu acredito que a visita ao Museu do Holocausto deveria ser quase obrigatória a todo ser humano que quer governar uma nação, completou, ao lado da mulher, Marisa Letícia, e do presidente de Israel, Shimon Peres. O rabino Israel Lau, diretor do museu e sobrevivente dos campos de concentração, pediu a Lula para conseguir-lhe um encontro com o presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad. Na condição de criança de Buchenwald, quero me reunir com ele para que ouça meu testemunho e para que eu possa provar que ele está errado em negar a existência da Shoah (Holocausto), afirmou Lau. Depois de visitar o museu, Lula foi ao Bosque de Jerusalém plantar uma árvore, como fazem todos os chefes de Estado que passam por Israel. Pode ficar certo que muito feijão que vocês comerão fui eu quem plantei, brincou Lula com os jornalistas presentes. Em discurso oficial, após a cerimônia de plantio, Lula comparou os 360 milhões de hectares da Amazônia aos 27 milhões de hectares de Israel e defendeu o compromisso brasileiro acertado na Conferência do Clima, em dezembro, em Copenhague. Até 2020, nós vamos diminuir o desmatamento na Amazônia em 80%, o que é um feito muito arrojado e é um compromisso do meu país, disse. No início da tarde, Lula foi recebido pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, na cidade de Belém, território palestino da Cisjordânia. É indispensável a necessidade de coexistência entre os estados de Israel e da Palestina. E o mundo tem pressa, discursou Lula a empresários brasileiros e palestinos. Eu converso com palestinos e eles dizem que as negociações estão boas. Eu converso com os israelenses e eles dizem a mesma coisa. Mas, claramente, há algo errado, disse. O presidente foi aplaudido ao defender um acordo entre o Mercosul e a Autoridade Palestina. Hoje, Lula vai a Ramallah, violenta capital administrativa palestina. Ele inaugurará uma rua chamada Brasil e vai visitar o túmulo de Arafat líder palestino criticado e elogiado por mais de quatro décadas ao defender um acordo com os israelenses.