Título: Petróleo ainda é escoado por balsas
Autor: Marcos Coronato,
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2005, Empresas, p. B3

Obras da Petrobras no meio da floresta amazônica causam desconforto em qualquer um preocupado com preservação ambiental. Qual é a necessidade de buscar matéria-prima para combustíveis e plásticos justamente naquela região? "A segunda maior ocorrência de gás da Petrobras está situada no Estado do Amazonas, só perdendo para o o Rio de Janeiro", diz Celso Murakami, gerente do Ativo de Exploração da Bacia do Solimões. "Há reservas de gás suficientes para abastecer toda a região Norte." A Refinaria de Manaus (Reman), em funcionamento há três anos, produz gasolina, óleo diesel, óleo para geração de energia, querosene de aviação, asfalto e outros derivados, com os quais abastece Amazonas, Roraima, Rondônia, Acre, Amapá e o oeste do Pará. Seu gás de cozinha chega até o Ceará. Para suprir esses mercados, a Reman processa 46 mil barris de petróleo por dia e 93% desse volume é extraído na região do Rio Urucu. Essa província petrolífera tem 60 poços abertos, incluindo vários dos maiores do país em terra firme. Saem de lá, diariamente, 60 mil barris de óleo e 9,5 milhões de metros cúbicos de gás. O combustível originado naquela área movimenta a economia regional de todas as formas. A Petrobras gera R$ 820,7 milhões em tributos, dos quais ficam no Amazonas R$ 612,4 milhões, entre royalties, ICMS e ISS para os governos municipais. "Nossa missão é produzir combustível e colaborar com o desenvolvimento regional", afirma Sven Wolff, gerente-geral da unidade de negócios da Bacia do Solimões (UN-BSOL). O petróleo e o gás extraídos em Urucu percorrem 285 quilômetros por um poliduto até a cidade amazonense de Coari, onde são armazenados no Terminal do Solimões (TSOL). A partir daí, viajam dez dias de balsa, até Manaus. Em outros setores econômicos, a opção pelo transporte fluvial poderia ser elogiada, por seu custo e impacto ambiental relativamente baixos. Esse não é o caso, quando se trata de carregar substâncias com alto potencial poluidor. "O transporte de combustível da forma que fazemos hoje, de balsa, é mais complicado, caro e arriscado do que por meio de dutos", afirma Nélson Cabral, coordenador de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da Petrobras na região Norte. Essa é a justificativa da companhia para as novas obras: os dutos Coari-Manaus, para o norte, com 420 quilômetros de extensão (a ser concluído em 2006), e o Urucu-Porto Velho, para o sul, com 550 quilômetros. (MC)