Título: Fabricantes temem falta de pedidos para 2006
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2005, Empresas, p. B1

Bens de capital Encomendas de 2004 ainda garantem as atividades

As encomendas obtidas no ano passado vão garantir aos fabricantes de bens de capital resultados financeiros até mais robustos que em 2004. Para 2006, porém, o cenário é de dúvida. O adiamento de grandes projetos de ampliação e de construção de novas fábricas, os juros altos e a valorização do real - que encarecem os custos - fazem com que o nível de pedidos em carteira já comece a declinar. O maior temor dos fabricantes é a dificuldade em conseguir novos contratos nos próximos meses, que garantam receita e ocupação das linhas durante o ano que vem. Para as empresas que produzem máquinas para energia elétrica e saneamento, áreas que dependem de dinheiro público, a expectativa é de outro ano fraco, disse Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e da Indústria de Base (Abdib). No ano passado, as empresas do setor faturaram R$ 168 bilhões, 28% a mais em relação a 2003, mas Godoy lembrou que os desempenhos foram desequilibrados. Enquanto as compras da área de saneamento caíram 18%, a mineração teve um aumento de 65% nos negócios. O presidente descarta fazer previsões para este ano. A Voith Paper, produtora de máquinas para celulose em São Paulo, esperava um primeiro semestre mais agitado. É que projetos bilionários de empresas como Suzano Bahia Sul, International Paper, Klabin e Norske Pisa ainda não saíram do papel, frustrando a expectativa dos fabricantes de máquinas. Segundo o presidente da Voith Paper na América do Sul, Nestor de Castro Neto, várias empresas estão postergando a decisão de investimentos, refazendo contas e estimativas. "Ainda estamos otimistas, até porque a última grande máquina de produção de papel foi instalada no Brasil há 12 anos", disse. O dólar enfraquecido também prejudica a empresa em duas frentes: reduz a competitividade das vendas externas e incentiva a importação de equipamentos pesados. A receita da empresa em 2005 deve crescer 32%, alcançando US$ 220 milhões. Melhor sorte tem os produtores de equipamentos para mineração, metalurgia e siderurgia, cujo volume de pedidos ainda se mantém em alta. É o caso da ABB, que revisou suas projeções de aumento de vendas para esses setores para 45%, contra o crescimento médio previsto para o restante de suas atividades em 20%. Em 2004, boa parte das encomendas eram voltadas para o aumento de produtividade, projetos de maturação curta e que custavam em média US$ 15 milhões. A expectativa é conquistar obras de maior volume, sobretudo em petróleo e gás e o automotivo, embalado pelas exportações. A siderurgia também deverá ter peso importante. "É fundamental que seja garantida a participação de conteúdo local nos novos projetos em estudo", disse Ricardo Hirschbruch, diretor de automação da ABB. A preocupação de Hirschbruch e de outros executivos tem como pano de fundo a intenção do grupo italiano Danieli em produzir no exterior equipamentos da Usina Siderúrgica do Ceará (USC), da qual é sócia. Os temores sobre a siderurgia elevaram-se com com os recentes anúncios feitos pela Gerdau e Belgo-Mineira de que vão adiar seus projetos de ampliação. Outro banho de água fria é a provável desistência da coreana Posco em construir uma siderúrgica no Maranhão em parceria com a Vale do Rio Doce. Enquanto aguarda um cenário mais claro do setor siderúrgico, a Dedini Indústrias de Base, de Piracicaba (SP) comemora o bom desempenho do setor sucro-alcooleiro, responsável por 40% do faturamento. Segundo Tarcisio Mascarin, presidente da empresa, esse peso poderá ser maior no ano que vem, graças ao interesse cada vez maior em usinas de álcool e no uso de biocombustíveis no exterior. O faturamento da empresa subirá 55%, para R$ 700 milhões neste ano, beneficiado por um pedido de R$ 150 milhões da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), obtido em 2004. "Falta um projeto destas dimensões para garantir o mesmo desempenho no ano que vem", disse, lembrando que os desempenhos dos segmentos de energia e cimento ainda estão fracos. O último grande pedido de uma cimenteira à empresa foi há 4 anos. Para a Siemens, as telecomunicações têm puxado o desempenho da área de bens de capital da empresa e ocupa 100% da capacidade instalada. Nos outros segmentos, a história é outra. Adilson Primo, presidente da Siemens, diz que o desaquecimento da área de energia já vem provocando a reestruturação das linhas de produção. "A grande esperança está depositada nos leilões de energia, que ocorrerão no final do ano". O dólar em baixa faz com que a Siemens seja mais seletiva com as vendas externas, reduzindo margens ou deixando de lado negócios que não são lucrativos. Ainda tem conseguido repassar custos em encomendas de curto prazo. A estimativa da empresa é que a divisão de bens de capital cresça 10% neste ano, contra 15% a 20% do desempenho geral da empresa.