Título: Petistas em debate acalorado
Autor: Boechat, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 17/03/2010, Cidades, p. 28

Agnelo e Magela se enfrentaram ontem numa prévia da eleição que escolherá o nome do partido ao Buriti. Acusações contra o ex-ministro do Esporte marcaram o encontro. Todas elas foram rebatidas

Os pré-candidatos ao governo do Distrito Federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT), o deputado federal Geraldo Magela e o ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz, se enfrentaram no único debate prévio do partido antes das eleições internas(1), marcadas para o próximo domingo. Cerca de 600 militantes da legenda lotaram o auditório do Hotel San Marco, no Setor Hoteleiro Sul, por quase quatro horas na noite de ontem. A promessa de não baixar o nível da discussão foi mantida no primeiro bloco de debate. Os petistas citaram por alto as acusações e defenderam as candidaturas próprias. As trocas de farpas em tons exaltados ficaram para o fim, após a intervenção de alguns filiados do partido, mesmo com a mediação do presidente do PT no DF, Roberto Policarpo, e as regras do debate. Ainda no início, o público estava dividido. Em determinados momentos, era possível ouvir em uníssono Magnelo por parte das torcidas. Mas, no segundo bloco do debate, após a participação dos militantes petistas, o clima esquentou. Eles aproveitaram os poucos minutos de intervenção reservado para cada um para defender os seus favoritos e, volta e meia, fazer acusações. No discurso em resposta às manifestações, Agnelo foi várias vezes interrompido por gritos e vaias proibidos pelas regras do debate. Por volta das 23h, dois homens se alteraram no meio da plateia e foram levados para fora do auditório. O debate terminou perto de 0h. Agnelo foi o primeiro a falar. Durante todo o tempo, ele se defendeu das acusações e desenhou o cenário político que espera das eleições de outubro. É o estilo de cada um. Esta atitude reflete a minha campanha (de não atacar o adversário). Eu não ia fazer agora o contrário de tudo que eu sempre falei, explicou. Ele começou o discurso elogiando o PT em âmbito nacional. Podemos reconduzir o processo vitorioso da Presidência para o DF. O povo tem o direito de um governo que defenda a vida e não tijolos. Podemos derrotar Arruda e Roriz e mostrar que o PT tem um projeto transformador para o DF, defendeu. Ele ainda retrucou as acusações de que não teria explicado a origem dos recursos para a compra da casa onde vive, no Lago Sul. Vamos tentar manter o alto nível até domingo e respeitar os adversários. Não aceito agressão baixa e rasteira, enfatizou. A política de Magela durante o debate, no entanto, foi diferente. Ele preferiu partir para as acusações. Enquanto esteve com o microfone em mãos, levantou três pontos: a falta de explicações sobre a casa do Lago Sul; um acordo quebrado por parte de Agnelo dentro do PT local; e o fato de o ex-ministro ter assistido aos vídeos de Durval Barbosa antes mesmo de ter estourado o escândalo da Caixa de Pandora, em 27 de novembro do ano passado. Agnelo e Chico Vigilante conversaram com outros partidos sem a minha presença. O acordo não era esse. E, por isso, foi rompido. A partir de então, Agnelo teve acesso aos vídeos, afirmou. Agnelo rebateu ponto por ponto. Sobre as fitas vistas de Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do GDF, alegou: Eu não sabia se as fitas eram verdadeiras, se estavam editadas ou não. Ainda bem que fui eu quem viu as fitas e podemos chegar a este desfecho que presenciamos hoje, defendeu-se. No fim do encontro, Agnelo apresentou ao presidente do PT no DF um documento de uma auditoria da Receita Federal que prova sua evolução patrimonial. Isso é um constrangimento absurdo, reclamou.

União

Apesar das acusações, Magela defendeu a união dos dois atuais rivais independentemente da decisão dos militantes nas urnas no próximo dia 21. Somos todos um único partido. A disputa e a divisão só acontecerá até domingo, disse. Ele ainda explicou a decisão de concorrer ao governo do Distrito Federal. Resolvi apresentar meu nome não porque tenho 30 anos de política. Mas também porque recebi apoio de outros partidos de esquerda. E ponderou: disse mais uma vez que os jornalistas responsáveis pela reportagem sobre a compra da casa de Agnelo estariam autorizados a informar a fonte, caso ele tenha ajudado a levantar informações que respaldaram a denúncia. A eleição da pré-candidatura do PT está marcada para o próximo domingo, quando sairá o nome do candidato ao Palácio do Buriti. Agnelo é o favorito do Palácio do Planalto, de quatro deputados distritais e de uma das correntes do partido que tem como representante o presidente da legenda no DF. Magela, por sua vez, tem mais tradição no PT e pode buscar aliados na militância, com o discurso de que quase derrotou o ex-governador Joaquim Roriz nas eleições de 2002.