Título: BCs acham que o país deve manter política econômica
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2005, Finanças, p. C8

BASILÉIA - O Banco de Compensações Internacionais (BIS), espécie de banco dos bancos centrais, conclamou ontem o governo brasileiro a manter a atual política econômica para reduzir vulnerabilidades que persistem.

Malcolm Knight, o diretor-geral do BIS, não quis comentar diretamente a situação política, mas alertou: "Para o Brasil, sendo um país ainda altamente endividado, é absolutamente essencial continuar no caminho que tem tomado nos últimos anos, que é o de ter um grande superávit primário, reduzir o estoque da dívida em relação ao PIB, reduzir as taxas de juros na economia doméstica relativamente ao resto do mundo, imunizar a dívida das flutuações no câmbio através de uma redução da indexação em dólares".

Ele reiterou que essa política "tem funcionado com consistência" nos últimos anos, resultou em "crescimento forte" no ano passado e acha que levará a um bom desempenho este ano, embora menor.

A mensagem do BIS é de que uma desaceleração mundial e redução da liquidez podem comprometer as conquistas recentes nos emergentes, mesmo se eles se tornaram mais resistentes a choques externos.

Em seu relatório anual, a instituição destaca os resultados positivos do Brasil na área fiscal. Exemplifica que a dívida pública líquida caiu pela primeira vez em dez anos e a composição da divida também melhorou. Mas indaga se essa melhora fiscal pode durar.

O BIS argumenta que as condições econômicas dos últimos dois anos foram favoráveis às medidas fiscais. Nota que o endividamento público ainda é elevado demais no Brasil, representando 52% do PIB. E que a forte proporção da dívida em relação à taxa variável ou de curto prazo no endividamento interno total pode ser forte de risco importante. Ao final de 2004, a dívida com taxa variável no Brasil representava 40% da divida total, e na Turquia, 50%.

O relatório anual observa que, no caso do Brasil e da Turquia, as taxas de juros reais permanecem elevadas provavelmente porque "o temor de inflação não desapareceu totalmente".

Para este ano, o BIS projeta crescimento de 3,6% no Brasil, estimativa superior à do mercado, que varia entre 2,7% e 3,1%. O país crescerá menos que a média de 6,3% prevista para o grupo de economias emergentes.

A projeção para a economia global para 2005 é de crescimento "robusto" e inflação "moderada", e acentuação dos desequilíbrio internacionais.

Com lucros confortáveis, a demanda das empresas deve continuar forte nos Estados Unidos e pode se intensificar nas outras regiões em 2005. Mas um aumento suplementar do preço do petróleo pode ter conseqüências mais graves do que se imagina.

O banco examina também a incidência limitada do encarecimento das matérias-primas sobre o nível da inflação - entre 1995 e 2004, os preços de bens de consumo diminuíram 30% em relação aos custos das matérias-primas nos EUA. Isso se explica pela modificação na composição das importações. Há menos consumo em menos energia e matérias-primas, porque a produção de bens industriais se desloca para economias emergentes.

O BIS chama a atenção também para a intensificação da concorrência. As empresas procuram preservar suas margens com ganhos de produtividade, com redes de distribuição mais eficazes nos EUA, por exemplo.

A poupança mundial continuou a aumentar em 2004, sendo na média de 25% do PIB. Quem mais contribui para isso foi a Ásia, particularmente a China, onde a taxa subiu a 48%. Na América Latina, a taxa de poupança é de 19,8%.