Título: Petrobras ainda não pensa em reajustar combustíveis
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2005, Empresas, p. B8

A Petrobras descarta fazer reajustes no preço dos combustíveis apesar da cotação recorde do petróleo atingido ontem. O diretor de abastecimento da empresa, Paulo Roberto Costa, disse acreditar que, até o final do ano, o barril seja negociado entre US$ 50 a US$ 55 e, portanto, não há razão para aumentos de preço. Segundo ele, a estatal não mantém um "gatilho", que determine o reajuste dos combustíveis caso a cotação não pare de subir. Também não vê, a curto prazo, motivos para mudar significativamente o plano estratégico da empresa, que passa por revisão anual. Ele também avaliou que, em 12 meses, o Brasil terá condições de começar a fazer exportações de álcool em grande escala para o Japão, conforme acertado na última visita do presidente Lula ao país. Costa participou ontem do seminário "Matriz Brasileira de Combustíveis", na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). De acordo com Adriano Pires, sócio do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), a gasolina e o diesel brasileiro estão, respectivamente, 5% e 15% mais baratos em comparação às cotações internacionais. Entretanto, com uma política de preço diferenciada para produtos como nafta e querosene de aviação (que já aumentou 15 vezes neste ano) a Petrobras poderá recompensar as perdas com o refino de gasolina, GLP e diesel e acompanhar assim o desempenho de outras companhias mundiais. Na avaliação do consultor, o bom resultado da companhia virá também do aumento da produção da empresa neste ano, que deve ficar, em média, em 1,7 milhão de barris diários. A projeção do especialista é de que até o final do ano o barril do petróleo Brent fique entre US$ 45 e US$ 47. Pires defendeu ainda, durante o seminário, a regionalização da política de combustíveis, de forma a atender as vocações locais e evitar desabastecimento e futuros reajustes de preços. Para Luiz Gonzaga Bertelli, diretor da divisão de energia da Fiesp, o governo deve tomar ações urgentes para diversificar e fortalecer a matriz energética brasileira, por meio da construção de novas refinarias (principal gargalo para produção de diesel), a disseminação da biomassa e do álcool. "Ainda corremos risco de enfrentarmos racionamento de energia entre 2008 e 2009". A preocupação de Bertelli e de demais membros da Fiesp, entretanto, é a questão da Lei do Gás, que deverá sair em até três meses. Para ele, a sétima rodada de Licitação da Agência Nacional de Petróleo (ANP), que vai leiloar campos gigantes na Bacia de Santos (SP), poderá significar a redução da dependência do gás boliviano. Para Luiz Augusto Horta, professor da Universidade de Itajubá e ex-diretor da ANP, os carros bicombustíveis devem responder por 60% dos veículos novos vendidos em 2005 e, no ano que vem, responderem por até 90%. "Os investimentos em biocombustíveis não podem ser circunstanciais."