Título: Camargo Corrêa conclui compra da Loma
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2005, Empresas, p. B9

Cimento Negócio ainda terá de ser aprovado pela CNDC, órgão argentino equivalente ao Cade brasileiro

A Loma Negra e a Camargo Corrêa comunicaram ao governo argentino que as duas empresas já concluíram todas as etapas do processo de negociação para a transferência da indústria de cimento argentina ao holding brasileiro. A notificação de que a transação, do ponto de vista das empresas, está fechada foi feita na terça-feira da semana passada à Comissão Nacional de Defesa da Competição (CNDC), órgão argentino equivalente ao Cade brasileiro. A operação será analisada pelas autoridades argentinas. Uma fonte da comissão não quis fazer previsões quanto à duração do trâmite. Outra fonte, da Loma Negra, afirmou que a companhia segue sob administração dos proprietários argentinos até que o contrato final seja oficializado, o que pode ocorrer nos próximos dias. Em abril foi anunciado o negócio, de US$ 1,025 bilhão, com a assinatura de uma carta de intenções. Na semana passada as companhias entregaram a documentação final com os detalhes do negócio, o que significa que ele foi concluído no início deste mês - depois de fechar a operação, as empresas têm prazo de uma semana para comunicá-lo à CNDC, segundo a lei argentina. A fonte do governo argentino afirmou que a análise vai concentrar-se na possibilidade de a passagem do controle da Loma Negra à Camargo Corrêa significar uma mudança no equilíbrio de forças no mercado. No processo será levado em conta tanto o peso local quanto regional da nova empresa. A Loma Negra é o maior fabricante de cimento do país. Controla quase 50% do mercado argentino, com nove fábricas, a concessão de uma ferrovia, uma companhia de tratamento de resíduos e uma fábrica de concreto. Seus principais concorrentes são a Minetti, do grupo suíço Holcin, e a cimentos Avellaneda, dos espanhóis Molins e Uniland. A CNDC poderá aprovar o negócio sem restrições, rejeitá-lo ou impor condições. O anúncio da venda gerou mal-estar entre parte do empresariado e do governo, com queixas contra a transferência de uma das empresa argentinas mais emblemáticas a um comprador estrangeiro e pesar porque nenhuma companhia local entrou na disputa. Funcionário da CNDC garante que esse aspecto não será levado em consideração. A Loma Negra é a terceira grande empresa argentina a passar para as mãos de capitais brasileiros nos últimos anos. Antes ocorreram as vendas da Quilmes à AmBev e da Pecom à Petrobras. O descontentamento das autoridades com a venda ficou evidente em maio, quando o governo retirou da proprietária da Loma Negra o título de embaixadora honorária de seu país. A dona da empresa, Amalia Lacroze de Fortabat, recebeu o título protocolar de embaixadora extraordinária e plenipotenciária por meio de um decreto emitido no início do governo do ex-presidente Carlos Menem, em 1989. A empresária, conhecida pelas ações de filantropia levadas a cabo por sua fundação, é um personagem frequente do noticiário de celebridades em seu país. Ela foi confirmada no cargo de embaixadora dez anos depois, durante a gestão de Fernando de la Rúa. O decreto retirando-a do posto foi publicado em 30 de maio no diário oficial argentino, assinado pelo presidente Néstor Kirchner e por seu chanceler, Rafael Bielsa.