Título: Nova luz no fundo
Autor: Seixas, Luiza
Fonte: Correio Braziliense, 17/03/2010, Brasil, p. 9

Comissão do Senado aprova projeto que reformula o recém-modificado Fies. De acordo com o texto, enfermeiros e dentistas também terão como abater a dívida, e os juros dos contratos mais antigos poderão ser reduzidos

O Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) recebeu uma série de melhoramentos no início do ano, com a nova lei que estabelece a redução dos juros de 6,5% para 3,5%, amplia o prazo para o pagamento da dívida para três vezes o período do curso e abate 1% da dívida para formandos em cursos de medicina e de licenciatura a cada mês trabalhado na rede pública ou no programa Saúde da Família. Mas os estudantes mal se acostumaram com as mudanças e já poderão ter o que comemorar outra vez. Um projeto de lei aprovado ontem pela Comissão de Educação do Senado determina nova mudança no Fies para ajudar os 486 mil estudantes que têm contrato com a Caixa Econômica, principalmente aqueles que enfrentam problemas para quitar a dívida com a instituição. De autoria dos senadores integrantes da comissão e relatoria do senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS), a proposta quer ampliar os pontos já estabelecidos na lei. Com isso, o prazo de carência do financiamento poderá ser de doze meses, os enfermeiros e dentistas também poderão abater 1% da dívida e os juros dos contratos mais antigos poderão ser reduzidos, com efeito retroativo, quando as taxas previstas no documento forem superiores às que venham a ser adotadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O projeto determina ainda que a instituição financeira promoverá uma fase de pré-aprovação de crédito dos estudantes interessados e deverá abrir espaço para renegociação de contratos. O objetivo da proposta, de acordo com Zambiasi, é facilitar a entrada dos estudantes nas instituições particulares para que possam exercer o direito de se aprimorar profissionalmente. O senador elogiou a nova lei, mas afirmou que os estudantes precisam de mais facilidades para pagar o financiamento. Por meio desse projeto, pretendemos corrigir toda a injustiça que acontece com os beneficiários dos Fies, destacou. Os problemas enfrentados pelos estudantes do Fies, que lutam para pagar a dívida com o fundo, foram lembrados pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Para ele, a aprovação do projeto vai dar liberdade àquelas pessoas que se escravizam para pagar o alto valor. Recebo sempre alunos que sofrem e padecem dessa escravidão para poder estudar. Além disso, escuto fatos que me deixam chocado. Por exemplo, uma jovem que fez a mãe ser fiadora do namorado e após o término do relacionamento teve que continuar pagando a dívida dele. Um país que obriga uma pessoa a fazer isso é um país sem futuro. Casos citados pelo ex-ministro da Educação não são difíceis de encontrar. Apesar de comemorar a aprovação do projeto, principalmente a parte em que permite a renegociação, Daiane Lima ainda tenta se livrar do prejuízo que o Fies causou em sua vida. Quando decidiu entrar na faculdade, ela acreditou que o financiamento seria uma boa solução, já que não teria condições de arcar com os custos. Portanto, as coisas não caminharam como ela pensou. Atualmente, a dívida da engenheira com a Caixa, se for paga à vista, está em R$ 78 mil. Como não tem de onde desembolsar todo esse valor, ela preferiu parcelar em 300 meses (ou 25 anos), pagando assim, ao fim do longo período, o valor de R$ 117.300. É um valor muito alto o que eu devo. No momento, estou brigando com a Caixa para renegociar essa dívida, mas eu não consigo, pois eles colocam sempre uma série de entraves. Na última tentativa, eles toparam negociar, mas com a condição de eu pagar 5% do valor devido para um advogado da Caixa. Ou seja, eu vou ter que pagar para o servidor público que entrou na Justiça contra mim?, questionou. Além de correr para tentar negociar a dívida, Daiane precisa resolver outra questão: um problema de família. Por ter sido fiadora dela quando decidiu aderir ao fundo, sua sogra corre agora o risco de ir parar na lista do Serasa. O Fies me causou vários outros problemas que agora preciso correr atrás para consertar, completou.