Título: Aécio causa apreensão no PSDB, mas mantém empenho pela agenda positiva
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2005, Política, p. A5

A visita do tucano Aécio Neves ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um gesto pessoal do governador de Minas Gerais, que não consultou nenhum outro integrantes da cúpula do PSDB, e causou apreensão no partido. Na conversa com o presidente, Aécio disse que estava "de mãos estendidas" para ajudar na construção de uma agenda positiva. Ao voltar para Belo Horizonte, Aécio ligou para líderes tucanos a fim de explicar a "esticada" ao Planalto. Ontem em BH, Aécio disse ter recebido do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o pedido para que coordene os governadores para garantir a aprovação da reforma tributária no segundo semestre. Além da reforma tributária, que incluí as negociações sobre a compensação aos Estados pela desoneração das exportações, o governador de Minas comprometeu-se a trabalhar pela aprovação da reforma política. Aécio foi à Fazenda para um despacho com Palocci, que tem-se revelado um artífice nas tentativas para reaproximar Lula da oposição. Foi atendendo a um pedido do ministro que o governador "esticou" até o Planalto na noite de segunda-feira e conversou por uma hora e meia com Lula. Conforme os relatos de correligionários, Aécio ouviu confidências de um presidente preocupado com a crise e grato às ponderações e gestos de tucanos mais moderados. A impressão foi de um presidente isolado, que busca apoio entre oposicionistas mais moderados. O gesto do governador, que disse estar com as mãos estendidas para o presidente, foi interpretado pela cúpula como uma atitude pessoal, e não partidária. "Agenda positiva é apurar tudo" disse o deputado Jutahy Júnior (BA). Na maioria dos tucanos ficou também a impressão de que Aécio fez um gesto de candidato presidencial, incomodado com a perspectiva de a poderosa seção paulista do PSDB não considerá-lo para 2006. "Não se recusa convite de presidente. O Aécio agiu corretamente", comentou outro tucano. A atuação política de Palocci na ofensiva propositiva de Lula à oposição ficou mais transparente ontem, quando o ministro recebeu por duas horas senadores do PSDB e PFL em seu gabinete e assumiu compromissos econômicos. A União vai auxiliar quatro capitais na conclusão de obras de metrô e liberar verbas emergenciais no Nordeste por medida provisória. Os oposicionistas obstruíam as votações no Senado exigindo boa vontade do governo para os dois casos (ver reportagem nesta página) O secretário da Casa Civil do Estado de São Paulo, Arnaldo Madeira (PSDB), disse que caberá ao governo federal a iniciativa de propor a pauta positiva. "Tenho pouca esperança de que ele tome a iniciativa, pare de ficar inerte e passe a se movimentar. Evidentemente, estamos em um regime presidencialista e cabe a ele nos procurar." Madeira disse ainda que uma agenda positiva para o país, neste momento, seria a volta à discussão das reformas política e tributária. "Esses temas foram abordados em diferentes circunstâncias . Se o governo retomar isso , estamos dispostos a avaliar e a debater, sem que isso implique adesão. Continuamos sendo oposição e teremos candidato em 2006." Líder do PSDB na Assembléia Legislativa de São Paulo, o deputado Ricardo Tripoli reitera o aceno de seu partido ao governo federal, em torno de uma agenda com medidas econômicas que impeçam o reflexo da crise nos investimentos estrangeiros e na área financeira. "O PSDB sempre acenou, mas não queremos espaço no governo. Queremos dar um salto de qualidade. Essa é a fala de Alckmin, de FHC, é o discurso que a bancada paulista apóia", afirmou. "O governo deve assegurar que essa crise não contamine a área financeira. Não queremos 'dinheiro volátil' no país, que saia com a mesma facilidade com que entrou. Temos que dar garantias para o investidor, para que ele possa confiar no país." Em palestra da Bolsa de Valores de São Paulo, o deputado Paulo Delgado (PT-MG) chamou o PSDB para superar a crise que, segundo ele, não é do governo, é do estado. "Vejo a necessidade de um outro padrão de negociação e espero que o PSDB e os democratas, os social-democratas do Congresso, o que inclui o PSDB também, possam dar o apoio de que nós precisamos. Não é uma crise do governo, não é uma crise do estado, é um problema democrático. Há uma dificuldade de aprovar reformas necessárias. Então, nós temos que ampliar a base de apoio", disse. "Esse modelo de governo, que nasceu depois da morte do Tancredo, o presidente Sarney não tinha força para governar sozinho, precisava dividir o estado, partilhar o estado com partidos que o sustentassem. O PT foi o único que ficou contra. Não tem sentido agora o PT fazer o que o Sarney precisou fazer 20 anos atrás", disse Delgado, ao apostar que pode estar em curso uma "Sexta República" - "Esse modelo de estado, que é a quinta república brasileira, que é a Nova República, pode ser mudado pela sexta república. O presidente Lula tem força e liderança e existe uma demanda na sociedade para fazer essa mudança. Espero que a gente tenha sabedoria, tranqüilidade e faça essas mudanças" . (Colaboraram Cristiane Agostine e Caio Junqueira, de São Paulo)