Título: Ex-secretária confirma denúncias na Câmara
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2005, Política, p. A8

BRASÍLIA - Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário Marcos Valério, confirmou ontem todas as denúncias que fez sobre o ex-chefe - que ele seria um dos principais operadores do mensalão -, mas não apresentou provas. Entretanto, afirmou que os saques de elevadas quantias feitas por Valério - que chegariam a R$ 21 milhões em menos de dois anos -, eram feitos no dia ou na véspera das viagens do publicitário a Brasília. " O dinheiro era para seus amigos em Brasília " , afirmou.

A secretária, que depôs na condição de testemunha de defesa no processo disciplinar contra Roberto Jefferson (PTB-RJ), disse que junto com Valério sempre viajava Geiza Dias dos Santos - funcionária do departamento financeiro da SMP & B, empresa de publicitário -, que ficava no hotel contando e distribuindo dinheiro. " Ela reclamava de ficar cansada de tanto contar dinheiro, e dizia que era um entra e sai de homens o dia inteiro " , disse. Mesmo decidida, ela admite que grande parte do que disse se baseia em " ouviu falar " e em " impressões pessoais " dela. " Eu nunca vi o dinheiro, só sabia que os boys iam buscar no banco " , disse.

Karina reconfirmou que o tesoureiro, Delúbio Soares, e o secretário geral do PT, Sílvio Pereira, sabiam e participavam de todo o esquema de distribuição de dinheiro. Ela também voltou a reforçar a existência de vínculos entre Valério e o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. " Eu liguei ao menos uma vez para o Palácio do Planalto " , disse, lembrando que, em geral, quando Valério queria falar com Dirceu, ela ligava para a sede do PT em São Paulo e então o ministro telefonava diretamente para o celular do publicitário. Karina disse que não sabia da ligação de Valério com políticos de outros partidos. A deputada Angela Guadagnin (PT-SP), entretanto, lembrou que a empresa de Valério teria contatos e feito campanhas para alguns tucanos, como Pimenta da Veiga, Aécio Neves e Eduardo Azeredo.

A secretária voltou atrás, entretanto, em relação a uma de suas declarações em entrevista anterior ao depoimento. Negou que o dinheiro sacado por Valério era oriundo de estatais. A ex-secretária também confirmou que no primeiro depoimento que deu à Polícia Federal negou todas as suas acusações porque sofreu uma ameaça.

Karina confirmou que sofre um processo do ex-chefe por extorsão. Deputados do PT apresentaram cópia de um e-mail que a ex-secretária envia a si própria, em que alguém oferece a ela " ajuda financeira " caso ela concorde em " apenas responder às nossas perguntas sobre coisas do seu ex-chefe " . Em seu depoimento ela afirma que não sabe como isso aconteceu e que alguém deve ter invadido seu correio eletrônico.

O relator do processo no Conselho de Ética disse que o depoimento da secretária dá algumas dicas importantes sobre a movimentação financeira, mas acha que poderão se enfraquecer se as pessoas citadas não confirmarem suas declarações. Hoje o Conselho ouvirá Pedro Henry (PP-MT) e Carlos Rodrigues (PL-RJ).