Título: Contratos milionários levaram à guerra comercial
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2005, Política, p. A9
Os depoimentos colhidos até o momento pela CPI dos Correios consolidam entre os membros da comissão - incluindo governistas - a tese de que uma grande guerra comercial, com foco nos contratos milionários supervisionados pela Diretoria de Tecnologia e Informática, trouxe à tona os supostos esquemas de fraude em licitações na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). "Trata-se de uma quadrilha de gente incompetente, do submundo empresarial e da política, que atuou por interesses comerciais nos Correios. É um time que deve ter chantageado um bando de gente que opera (em licitações e empresas) em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro", confidenciou um parlamentar da CPI ao Valor. Os parlamentares vão interrogar hoje o ex-diretor dos Correios Eduardo Medeiros, que ocupava a área de tecnologia. As denúncias apontam que Medeiros teria sido indicado para o cargo pelo secretário-geral do PT, Sílvio Pereira. O debate sobre a guerra comercial nos Correios foi abordado por parlamentares ontem durante o depoimento do advogado Joel dos Santos, que confessou ter gravado uma fita de vídeo em que o funcionário de carreira dos Correios, Maurício Marinho (ex-chefe do departamento de contratações) foi flagrado recebendo R$ 3 mil de propina. Joel Santos Filho recebeu do empresário Arthur Waschek - que participou de várias licitações nos Correios - R$ 10 mil para gravar Marinho e arrancar dele confissões de que havia um esquema ilícito de licitações. Ele contou aos parlamentares que fez três gravações. A CPI tomou conhecimento apenas ontem da existência da terceira fita de vídeo. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) foi contatado em seu gabinete ontem pelo advogado de Maurício Marinho, Sebastião Coelho da Silva. Ele disse que entregaria ao parlamentar um terceiro vídeo, que chegou às mãos de Marinho - provavelmente fruto de chantagem. A avaliação dos parlamentares é que esse terceiro vídeo mostraria com mais clareza quais as empresas teriam ficado de fora dos esquemas de licitação fraudadas. A suspeita dos integrantes da CPI é que os vídeos foram feitos por empresários para chantagens econômicas e políticas, já que todos os dirigentes dos Correios foram indicados por partidos da base aliada do governo. Joel dos Santos Filho disse à CPI que é advogado e consultor de empresas, e amigo de Waschek desde 1992. Ele afirmou que fez a gravação a pedido de Waschek e por amizade. Revelou que procurou Maurício Marinho com o argumento de que representava uma multinacional com interesse em vencer licitações nos Correios. Aos parlamentares, ele afirmou que o pagamento dado a Marinho foi de fato propina. O advogado contou que Marinho tinha ligações próximas com o PTB, e lhe revelou que o partido fazia reunião mensal para "prestação de contas" das licitações nos Correios. Até o fechamento desta edição a CPI ainda ouvia o depoimento de Arlindo Molina, militar reformado da Marinha que também atuou nas gravações e é próximo de políticos do PTB. Molina negou que tenha chantageado o deputado Roberto Jefferson com a fita de vídeo. Disse que procurou o deputado a pedido de seu amigo, o empresário Arthur Waschek. O militar apresentou uma versão de que teria recebido R$ 20 mil de Waschek por conta da relação de amizade entre os dois, poque ele estava passando por dificuldades financeiras e precisava cobrir um rombo em seu cheque especial. Ele também negou qualquer relação com Maurício Marinho, mas sinalizou que tinha um contato próximo com Jefferson, apesar de ter detalhado apenas quatro encontros entre eles. (MLD)