Título: CPI decide ouvir Marcos Valério e vota convocação do tesoureiro do PT
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2005, Política, p. A9

BRASÍLIA - A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Correios vai ouvir na próxima semana o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, sócio das empresas SMP & B e DNA Propaganda. A data do depoimento será definida hoje, em sessão da CPI, quando serão votados dezenas de novos requerimentos, incluindo o que pede a convocação do tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

Ontem, os integrantes da CPI selaram um acordo informal para a convocação de Marcos Valério. " Ficou irreversível " , admitiu um governista que integra a comissão. O governo vai tentar poupar Delúbio Soares por pelo menos mais algumas semanas e também discorda da convocação do ministro Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica do Governo) para explicar contratos de publicidade com os Correios.

Valério foi apontado pelo presidente licenciado do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ) - denunciado no esquema de irregularidades em licitações dos Correios - como um operador do mensalão, o suposto esquema de pagamento a deputados do PP e PL em troca de apoio ao governo. O depoimento pode ser fatal para incluir na CPI dos Correios o debate sobre o mensalão, uma estratégia combatida pelos governistas.

Na denúncia feita por Jefferson, ele afirma que Marcos Valério agia em consonância com dirigentes petistas, sobretudo Delúbio Soares. A CPI também vota hoje os requerimentos para quebrar sigilos bancário, fiscal e telefônico de Valério.

Paralelamente à quebra de sigilos, a CPI vai solicitar informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ligado ao Ministério da Fazenda, sobre as movimentações de Marcos Valério.

Estão registrados no Coaf saques do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza e suas empresas no Banco Rural, que totalizam R$ 20,9 milhões, no período de julho de 2003 a maio deste ano.

" Essas informações do Coaf são muito importantes, e para a CPI isso é fundamental em função das ligações de Marcos Valério com contratos nos Correios " , afirmou Delcídio Amaral. O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) apresentou requerimento pedindo que o Coaf forneça à CPI não somente as movimentações de Marcos Valério, mas também de outros envolvidos em denúncias.

Hoje, os parlamentares da CPI vão interrogar três diretores dos Correios. Deputados e senadores da oposição argumentaram ontem que as audiências serão inócuas porque ninguém teve acesso aos contratos dos Correios.

No início da noite de ontem, o presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS), informou que seriam distribuídas cópias dos principais contratos. Pressionado por parlamentares, o petista pediu ainda ao Corregedor Geral da União, Waldir Pires, que comece a enviar hoje à comissão os cerca de 400 contratos dos Correios que estão sendo auditados. No total, os parlamentares vão analisar por volta de 600 contratos.

Delcídio Amaral reconheceu que as informações não estão chegando em tempo hábil aos parlamentares. Por iniciativa do senador, todas as ações da CPI - requerimentos, atas - serão publicadas no site www.cpmidoscorreios.org.br.

O senador César Borges (PFL-BA), membro da CPI, afirmou que os oposicionistas estão com dificuldades de acesso às documentaçoes. O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) criticou o fato de os membros da CPI só terem recebido na noite de segunda-feira as transcrições de depoimentos prestados à Polícia Federal por envolvidos nas denúncias de corrupção nos Correios.

PFL e PSDB apresentaram requerimento, que também será votado hoje, para que seja criada na CPI uma " subcomissão de apreensão " , encarregada de buscar em órgãos federais documentos necessários à investigação. Também por pressão da oposição, o deputado Roberto Jefferson será ouvido sozinho amanhã. O depoimento do genro do deputado, Marcus Vinícius Vasconcelos Ferreira, que também seria amanhã, foi adiado.