Título: Liberação de mais recursos do FAT enfrenta resistência
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2005, Agronegócios, p. B14

Conjuntura Há travas para pedido dos ruralistas, que iniciaram "tratoraço"

O governo federal não está disposto a ampliar a linha de crédito de R$ 1 bilhão criada para refinanciar as dívidas dos produtores rurais com fornecedores privados, afirmou ao Valor o secretário-executivo do Ministério do Trabalho, Alencar Ferreira. "Primeiro, precisamos rodar os recursos aprovados. Não dá para falar em ampliação antes disso", resumiu. "Precisaria deslocar recursos de outros programas, o que é indesejável neste momento". Segundo ele, porém, há uma "clara boa vontade" do governo com o setor. A linha, anunciada em 2 de junho, utiliza recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e permite aos produtores refinanciar débitos com empresas de insumos, cerealistas, tradings e bancos de fábrica de máquinas agrícolas. A ampliação dos recursos em R$ 3 bilhões é considerada por lideranças e produtores rurais a principal medida para auxiliar a transição da atual (2004/05) para a próxima safra (2005/06), que começa oficialmente nesta sexta-feira. Ferreira admitiu, entretanto, permitir a abertura da operação da linha a outros bancos, além do Banco do Brasil. "Não vemos problemas técnicos nisso", afirmou o secretário-executivo. Nos bastidores do governo, as negociações continuam. E esses recursos adicionais podem vir de outras fontes, segundo o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Ele passou o dia de ontem tentando convencer o colega da Fazenda, Antonio Palocci, a reforçar a linha do FAT. "Há outras fontes", afirmou, sem especificar quais. Ele informou que estuda permitir a liberação de garantias dos financiamentos como condição" adicional" de crédito. "Depende de uma análise jurídica pelo Tesouro Nacional", disse. Além disso, o governo pode diluir a parcela de julho do custeio em outros meses deste ano. Pela manhã, em reunião com a bancada ruralista, Roberto Rodrigues negociou a redução de 8,75% para 6,75% do spread que será cobrado pelo Banco do Brasil nos empréstimos dessa linha. Em uma conferência viva-voz, representantes das indústrias de insumos concordaram em pagar um spread máximo de 4% e dar seu aval aos empréstimos. Hoje, líderes ruralistas tentarão arrancar alguma nova medida durante audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto. "Queremos uma definição clara do governo porque temos a responsabilidade de dar uma resposta aos milhares de produtores que vieram até aqui", afirmou a deputada Kátia Abreu (PFL-TO). Muitos protestos, negociações de bastidores, discursos inflamados da oposição contra o governo e até confronto com a polícia em frente ao Congresso Nacional marcaram o primeiro dia do "tratoraço" em Brasília. Tratores e caminhões bloqueram parte do trânsito na Esplanada dos Ministério e os produtores terminaram uma audiência pública em frente ao Ministério da Fazenda. Embora a forte pressão dos ruralistas tenha mobilizado vários ministérios, o governo não cedeu ao apelo por novas medidas de socorro. No fim da tarde, o ministro Rodrigues reafirmou a disposição em solucionar a "crise real" do setor, mas admitiu desconforto com a demora. "Me sinto apertado", disse. "Sem esmorecer e com forte motivação por parte do presidente Lula". Segundo ele, o governo já auxiliou em R$ 3,5 bilhões os prejudicados pela seca e o descasamento de renda, além de planejar dar mais R$ 600 milhões para a comercialização de arroz, algodão, mandioca e trigo. No Ministério da Fazenda, o secretário-executivo, Murilo Portugal, reforçou o coro: "O governo avançou em algumas propostas, como a liberação de recursos para a contratos de opção de venda e recursos expressivos para o Plano de Safra", disse Portugal. "Não houve maior avanço na questão de uma nova renegociação de dívidas agrícolas". O ministro Roberto Rodrigues, entretanto, apóia a iniciativa da bancada ruralista para renegociar R$ 12,6 bilhões de débitos em atraso: "Sou a favor porque há uma evidente dificuldade de pagar as dívidas", disse. "Quem não pode pagar as dívidas de custeio, não pode pagar outras dívidas", concluiu o ministro.(Colaborou AG)