Título: Brasil e EUA buscam evitar novo confronto no algodão
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2005, Agronegócios, p. B14

Brasil e Estados Unidos estão tentando chegar a um entendimento preliminar para evitar um novo confronto envolvendo o algodão. Na sexta-feira, expira o primeiro prazo para Washington implementar mudanças em sua política de apoio aos cotonicultores americanos determinadas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) após processo aberto a pedido do governo brasileiro. As conversas entre Brasília e Washington, que se arrastam há três semanas, visam manter um clima amigável para que as negociações continuem depois de 1º de julho, desde que os EUA mostrem como vão realmente modificar programas agrícolas que foram condenados. Pela decisão de março da OMC, os EUA têm até 1º de julho para eliminar os subsídios de garantias de crédito à exportação e o programa "Step 2", que paga a diferença entre o preço interno mais alto e cotação do mercado internacional mais baixa. Além disso, os EUA têm até 21 de setembro para retirar subsídios domésticos ou remover os efeitos adversos que estes causam sobre produtores brasileiros. Isso envolve desmontar os programas "Market Assistance Loan" e "Counter-Cyclical Payment/Market Loss Payments". Como os EUA não têm como retirar os subsídios até sexta-feira, o Brasil tem o caminho livre para reservar na OMC o direito de retaliar exportações americanas, inclusive indicando o valor da sanção. Só que a administração George W. Bush diz que o que pode fazer no momento é montar um pacote reduzindo subsídios e enviá-lo ao Congresso para aprovação posterior. Ao mesmo tempo, os americanos se dizem receosos de tomar essa iniciativa e o Brasil ainda assim pedir o direito de retaliar. Do lado brasileiro, a idéia é que o Itamaraty só aceite qualquer entendimento se os EUA disserem antes tudo o que pretendem fazer. Em todo caso, o Brasil prefere receber um sinal de que Washington vai se mexer realmente a uma nova situação de confronto que leve ao direito de impor sanções que tampouco beneficiariam o setor algodoeiro brasileiro. O setor investiu quase US$ 2 milhões no contencioso e prefere ver a queda dos subsídios americanos. Fontes do setor são prudentes sobre o desfecho de um entendimento, porque a margem de manobra de Brasília e Washington é reconhecidamente limitada nesse caso. Nos EUA, o esforço concentrado do governo Bush junto a um Congresso protecionista é para aprovar o Cafta, o acordo de livre comércio com a América Central. Já o Brasil está no meio da negociação agrícola na OMC e não pode comprometer a vitória obtida. Jornais dos EUA informam que assessores de Bush tiveram encontros privados com parlamentares, mas que estes não gostaram do que foi dito sobre o corte de subsídios ao algodão. Nesse contexto, pode acontecer de o Brasil pedir retaliação para reservar seu direito, mas prosseguir com as negociações. Se com os EUA as tentativas do Brasil são de evitar confronto, com a Rússia o clima envolvendo produtos do agronegócio começa a ficar tenso. Hoje, delegações de Brasil e Rússia se reúnem na OMC e os brasileiros sentarão na mesa com um claro propósito: para dar apoio à entrada de Moscou na organização, não aceitarão retrocesso em relação ao atual volume de exportações. Os embarques do Brasil para a Rússia somam US$ 1,6 bilhão por ano, e carnes e açúcar, os dois produtos mais problemáticos na discussão bilateral, respondem por US$ 1,4 bilhão. Se Moscou não der sinais de flexibilidade, o Brasil poderá elevar a pressão, desta vez procurando outros parceiros que tampouco obtiveram melhor acesso ao mercado russo.