Título: IGP-M registra deflação pelo segundo mês consecutivo
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2005, Brasil, p. A3

O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) registrou em junho a quarta deflação consecutiva da família de IGPs (IGP-M, IGP-10 e IGP-DI) calculada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), com queda de preços de 0,44%, exatamente o dobro da deflação do IGP-M de maio (- 0,22%) e a maior desde junho de 2003 (- 1%). O IGP-DI de maio caiu 0,25% e o IGP-10 de junho, 0,41%. O Índice de Preços do Atacado (IPA) seguiu como principal responsável pela queda dos preços gerais, passando de uma queda de 0,77% no mês de maio para uma retração de 1,0% em junho. O varejo (Índice de Preços ao Consumidor, IPC) registrou a mais forte desaceleração do IGP-M, recuando de 1,02% em maio para apenas 0,05% em junho. E o Índice Nacional de Construção Civil (INCC) teve alta, indo de 0,54% em maio para 2,22% em junho. O IGP-M acumula alta de 1,75% no primeiro semestre do ano e de 7,12% em 12 meses. Embora a trajetória do índice nos últimos dois meses deste ano esteja parecida com a de 2003, ano de baixa atividade econômica (a economia brasileira cresceu apenas 0,5%), quando captou três deflações consecutivas de maio a julho (-0,26%, -1% e -0,42%), o economista Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas da FGV, avalia que o fenômeno agora é benigno. Para ele, os preços estão reagindo à valorização cambial provocada pela política monetária (juros), fenômeno parecido com o de 2003, com a diferença de que naquele ano o dólar baixou de níveis bem mais elevados (chegou a valer R$ 4,00) e com maior velocidade, respondendo ao aperto monetário corretivo pós-crise eleitoral de 2002. Apesar de não ver risco de crise econômica no horizonte, o analista da FGV admite, mas não aposta, que o IGP-M fique outra vez negativo em julho, repetindo 2003. Remando a favor dessa hipótese estão os preços industriais no atacado, medidos pelo IPA. Eles haviam caído 0,38% no IGP-DI de maio, aceleraram a queda para 0,67% no IGP-10 de junho e agora no IGP-M do mesmo mês alcançaram uma redução de 0,82% (os três índices só diferem no período de pesquisa, com dez dias de diferença entre cada um). Entre os preços industriais, o destaque foi para ferro, aço e derivados. O grupo teve queda de preços de 1,08% (-0,63% em maio), o maior recuo mensal desde outubro de 1994 (-1,49%), em pleno ajuste dos preços relativos, logo após o início do Plano Real. Vale destacar que esse mesmo grupo de produtos aumentou 60% no atacado em 2004. Parte dos produtos do grupo de ferro e aço integra o bloco chamado materiais para manufatura, que inclui também celulose, produtos químicos, petroquímicos e outros e que tem peso de 17% no IPA. Eles saíram de uma variação negativa de 0,10% em maio para uma de 1,96% em junho. "Se eu só tivesse uma linha para dizer qual a principal causa da deflação diria que foram os materiais para manufatura", disse Quadros. Os produtos agrícolas caíram mais que os industriais no atacado (-1,56%), mas já estão em fase de aceleração, tendo saído de queda de 3,42% em maio. O comportamento deles, fortemente influenciados por fatores sazonais, como entressafras, pode impedir nova deflação no IGP-M de julho, avalia o analista da FGV. No varejo, o IPC ficou em quase zero, fortemente impactado pelos preços dos alimentos, que tiveram queda de 0,57%, contra alta de 1,38% no IPG-M do mês passado. Houve desaceleração em todos os sete grupos que compõem o índice, embora a deflação só tenha ocorrido nos alimentos e nos transportes (-0,07%). A queda dos alimentos foi fortemente marcada pelos produtos in natura, como a batata inglesa (-12%), que baixaram 4,99%, contra alta anterior de 8,17%. Como eles já estão subindo no atacado (2,17% em junho), é possível que façam pressão ao contrário em julho. As tarifas de telefone fixo, que sobem no começo de julho, representam outro fator que pode impedir nova deflação. A subida do INCC em junho decorreu de reajustes de mão-de-obra na data-base em São Paulo, Fortaleza, Brasília, Goiânia e Florianópolis, pressão que não deve se repetir em julho