Título: Governo garante apoio da maioria do PMDB
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2005, Política, p. A4

As bancadas do PMDB no Congresso, de forma majoritária, aceitaram a proposta de apoio congressual ao governo em troca de quatro ministérios. Com isso, o Planalto considera que o presidente já tem elementos suficientes para desenhar a sua reforma ministerial nas próximas horas: estuda as hipóteses de montar um ministério com o ingresso na equipe de personalidades com alto grau de credibilidade na sociedade, ou um ministério de base congressual, mas enxuto, com a extinção de várias pastas.

Pode ainda optar por um redesenho modesto da equipe, em que a participação pemedebista no ministério deve mesmo subir para quatro ministérios. O ministério da Coordenação Política, hoje ocupado por Aldo Rebelo, seria extinto e o ministro reaproveitado em outro cargo no primeiro escalão. Durante o dia, este foi o cenário mais comentado no Congresso.

O fato de importantes setores do PMDB continuarem avessos à aproximação foi minimizado pelo governo. " Houve uma decisão da bancada da Câmara e do Senado e é a decisão das bancadas que vale, é la que precisamos do apoio e elas fecharam em garantir a governabilidade " , afirmou Aldo Rebelo.

Para este cenário prevalecer, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda pretende conferir algumas pendências em aberto, sobretudo em relação ao efetivo apoio de que disporá na Câmara, antes de indicar os novos ministros do partido. Lula gostaria ainda de tentar uma composição com os sete governadores da sigla, que se opuseram ao acordo e pretende usar duas das quatro vagas que o PMDB teria com este objetivo.

Na cúpula pemedebista, dá-se como praticamente certa a volta do ministro da Previdência, Romero Jucá, ao Senado, de onde passaria a desempenhar a função de líder do governo no Congresso, em substituição ao senador Fernando Bezerra (PTB-RN). Existe a pequena a possibilidade de Jucá permanecer na Previdência. Nessa hipótese outro ministro do PMDB seria o deputado Saraiva Felipe (MG), que tanto poderia ir para a Saúde - é médico e foi secretário da pasta na gestão Hélio Garcia em Minas (91/94) - como para Comunicações.

A outra opção do PMDB é o senador Hélio Costa (MG), nome apontado pelo PMDB na primeira proposta de composição feita por Lula ao PMDB, em dezembro de 2002. Ele só será ministro se Jucá voltar ao Senado, cenário mais provável. Outro nome representando a bancada pemedebista no Senado será indicado por José Sarney (AP): o ex-presidente indicou Silas Rondeau, atual presidente da Eletrobrás, para as Minas e Energia.

Foi a adesão da seção mineira que deu maioria aos governistas em favor da proposta de coalizão feita por Lula. Por não contar mais com o apoio na bancada, o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, quase certamente não ficará à frente da pasta. Uma possibilidade é que seja substituído pelo líder do PMDB na Câmara, José Borba (PR).

O presidente recebeu no início da tarde de ontem o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) e o ex-presidente Sarney, que foram levar a resposta do PMDB. Segundo os pemedebistas, Lula revelou disposição para fazer logo a reforma e teria dito que o critério da substituição dos ministros candidatos não seria absoluto - haveria exceções.

No PT e no Planalto o ânimo manifestado era outro: Lula gostaria de fazer mais algumas consultas e ter mais clareza sobre o quadro de apoio na Câmara dos Deputados. Anteontem, um jantar promovido pelo ministro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner, reuniu sete ministros petistas, entre eles a da Casa Civil, Dilma Rousseff para tentarem uma posição comum.

(Raymundo Costa e César Felício | Valor Econômico. Colaborou Henrique Gomes Batista, de Brasília)