Título: Sindicância planeja acareação entre Genoino e o tesoureiro do PTB
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2005, Legislação & Tributos, p. E1

O presidente nacional do PT, José Genoino, negou ontem em depoimento à Comissão de Sindicância da Corregedoria da Câmara que seu partido tenha doado ilegalmente R$ 4 milhões ao PTB, no ano passado, conforme denunciou o presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson (RJ). Como o depoimento do petista contradiz o que foi afirmado por diversos membros do PTB - inclusive o tesoureiro do partido, Emerson Palmieri -, a Corregedoria estuda a possibilidade de fazer uma acareação entre os dois. "Temos que apurar e isso não está descartado", afirmou o relator da comissão, Robson Tuma (PFL-SP). "O PT não fez a doação de R$ 4 milhões para o PTB, o que a gente fez foi um acordo político eleitoral em algumas cidades e assumimos as despesas de shows, propaganda de TV, material de divulgação, adesivos, mas jamais um acordo para doar R$ 20 milhões ou ter passado R$ 4 milhões ao partido", disse. Membros da Corregedoria, contudo, não acharam conclusivo seu depoimento - com cerca de 40 minutos para responder a 30 perguntas - e podem voltar a chamá-lo, para depor junto de Palmieri, que na terça-feira foi categórico em afirmar que houve a doação. As investigações só não avançaram mais porque três diretores do partido - o tesoureiro Delúbio Soares, o secretário Sílvio Pereira e o secretário de comunicação Marcelo Serrano - desmarcaram seus depoimentos, de última hora. Parlamentares da sindicância acreditam que isso foi uma estratégia para empurrar os depoimentos para agosto. "Nós tínhamos um acordo, marcamos para o dia 29 a pedido deles, foi frustrante", afirmou o Givaldo Carimbão (PSB-AL). Mesmo ausente, Delúbio, principal acusado de operar o esquema do mensalão, acabou se desgastando um pouco mais com o depoimento de Genoino. "Com relação ao Marcos Valério eu estive algumas vezes com ele na sede do PT, mas apenas o cumprimentei, tive apenas uma relação social, uma vez que quem era mais próximo dele era o companheiro Delúbio Soares", disse. Genoino, em depoimento firme, negou que sequer tivesse ouvido falar em mensalão. Além de Genoino, a deputada licenciada Raquel Teixeira (PSDB-GO) depôs e confirmou a denúncia de que recebeu a oferta de R$ 1 milhão para migrar para o PL. O empresário Antônio Velasco - sócio de Arthur Waschek, que gravou o pagamento de propina nos Correios -, Mauro Dutra, amigo do presidente Lula e dono da Novadata, empresa de informática acusada de ter favorecimento em licitações, também depuseram. Dutra negou favorecimento e disse que perdeu mercado nos Correios com o governo de Lula. "A vida tá longe de ser fácil nos Correios, o fato de eu ser amigo do PT está prejudicando a empresa", disse. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, também prestou depoimento e confirmou que tinha ouviu as denúncias de Jefferson sobre o mensalão e disse que ficou satisfeito com as apurações feitas pela Corregedoria da Casa em outubro do ano passado. Ele também negou a existência do mensalão. "A oposição votou junto com o governo em matérias importantes, discutimos com a sociedade, se isso é verdade pagamos mensalão para a oposição também".