Título: Semelhanças entre PT e PSDB abrem espaço para um terceiro em 2006
Autor: Cynthia Malta
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2004, Política, p. A-4

As eleições municipais deste ano confirmam PT e PSDB como os partidos dominadores do cenário político que se desenha para 2006. Mas estes dois, que disputarão a Presidência da República pela quarta vez, estão sendo percebidos, cada vez mais, como assemelhados. Por isso, abre-se espaço para um terceiro candidato, com boas chances de instalar-se no Planalto, apresentar-se ao eleitorado como alguém capaz de promover mudanças - trazer uma política econômica diferente, que não veio com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A avaliação é do sociólogo e professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) Luiz Jorge Werneck Vianna. "O país está mais animado para mudanças do que aquelas que são feitas. O eleitorado não tem tido para onde correr e encontra pela frente esses dois grandes vértices dominadores da política nacional, o PT e o PSDB, que são muito semelhantes." Para ele, "o governo é conservador e prisioneiro da base que constituiu para garantir a governabilidade". Pondera que "não se pode criticar o PT por fazer alianças. É natural fazer alianças. O problema é que foram feitas com um lado muito conservador" e o "fato de a base ser tão elástica e tão conservadora afeta, diminui o grau de autonomia que o governo poderia ter numa ação mais corajosa, mais audaciosa". Esse quadro, segundo ele, pode provocar "um desânimo na participação eleitoral" - um eleitor mais apático ou menos eleitores indo às urnas. E também pode levar um terceiro partido a fazer "um movimento mais impetuoso, que discorde de PT e PSDB". Mas essa possibilidade, diz Werneck Vianna, "depende que um candidato carismático se faça presente. Até agora, esse candidato não foi visto". A construção desse candidato, na visão do professor, poderia ser inspirada no ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. "Ele seria bem o perfil desse personagem, que poderia irromper por fora e desmanchar a hegemonia dos dois partidos e apresentar uma saída. Mas, para isso ele teria que sair do governo federal". O prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (PFL), também é citado pelo sociólogo, como uma alternativa, mas sem a força "e a marca da mudança" que trazia, por exemplo, a senadora Roseana Sarney (PFL) em 2002, quando preparava-se para disputar a Presidência da República. "Não vejo como a marca da mudança pode pegar no Cesar Maia, mas ele pode fazer uma presença forte. Para isso, é preciso que o PFL recue da posição que tem tido nas últimas eleições, sempre ajudando a apoiar um candidato e nunca sendo ele mesmo protagonista", diz Werneck Vianna. É justamente esse comportamento - de não lançar candidatos fortes para disputar o Palácio do Planalto, preferindo costurar acordos regionais - que está fazendo com que PFL e PMDB percam espaço para o PT e o PSDB, observa o professor. Em sua análise, é bem provável que o tucano José Serra vença a eleição municipal em São Paulo, derrotando a prefeita Marta Suplicy. Se a vitória de Serra for confirmada, "a eleição de 2006 não fica um caminho aplainado como se percebia antes. Vai ser uma eleição renhida e o PSDB vai se fazer presente com força." Werneck Vianna acredita que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, será o candidato tucano para 2006. "Serra está ganhando na esteira dele. E acho difícil o Alckmin deixar passar a oportunidade de se tornar uma grande presença no PSDB nacional". Se Marta conseguir reverter o quadro mostrado nas pesquisas, que informam uma diferença de 10 a 14 pontos em relação a Serra, e ganhar mais quatro anos na prefeitura, "o cenário da reeleição de Lula fica mais amável, sem dúvida", diz o professor. Werneck Vianna também nota o surgimento de uma força que tende a ganhar importância nos próximos meses: a esquerda sindical. "O movimento sindical está dando demonstrações fortes de volta à vida. Essa greve dos bancários foi a maior da história republicana", diz o professor, referindo-se à paralisação que durou três meses e teve a adesão de trabalhadores em 24 Estados. "Isso significa que medra embaixo, ainda de maneira invisível, uma organização que não se suspeitava, muito forte", diz Werneck Vianna. Observou que "existe uma esquerda dentro do PT e fora do PT que está atuando no movimento sindical e que se fez presente na greve dos bancários". O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), fundado há 10 anos e que se considera o terceiro maior partido de esquerda do país, atrás do PT e do PCdoB, é, segundo o professor, uma das forças que integram esse movimento.