Título: Petistas vêem ação política na operação da PF no caso Duda
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2004, Política, p. A-6

O PT viu na operação da Polícia Federal (PF) para prender Duda Mendonça, responsável pela publicidade do governo Lula e pelo marketing político da campanha da prefeita Marta Suplicy, um ato político. Os dirigentes petistas, segundo apurou o Valor, estranharam alguns fatos da prisão. Duda Mendonça foi preso, na noite de quinta-feira, enquanto participava no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, de uma rinha de galos. O PT não questiona o fato de o publicitário ter sido preso em flagrante cometendo um crime, mas reclama da presença da imprensa no momento e no local da prisão. "A imprensa já estava lá quando a prisão aconteceu", disse um dirigente do PT, que pediu para não ser identificado. O partido acha "estranho" também que o delegado responsável pela prisão - Elias Escobar - tenha "fortes ligações" com Marcelo Itagiba, subsecretário de Segurança Pública do governo fluminense. Policial federal, Itagiba é o braço direito de um dos maiores adversários políticos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - o ex-governador Anthony Garotinho (PMDB), hoje secretário de Segurança Pública do governo de sua mulher, Rosinha Matheus. No governo Fernando Henrique Cardoso, Itagiba foi superintendente da PF no Rio, mas, antes, ajudou a montar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária a serviço do então ministro da Saúde, José Serra, hoje candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo. O delegado Escobar teria trabalhado com Itagiba quando este comandou, na PF, operações de combate ao narcotráfico. "Não questionamos a ação da PF, mas a maneira como ela aconteceu. A operação foi exagerada e fizeram uma exploração política muito grande", comentou um integrante da campanha de Marta. Procurado pelo Valor para falar sobre o caso, o presidente do PT, José Genoino, recusou-se a abordar o assunto. "Não vou opinar sobre a PF. Esse caso para nós está encerrado", disse ele, comentando apenas que considerou "corretas" as declarações do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Dizendo-se amigo de Duda Mendonça, o ministro assegurou, na sexta-feira, que a PF não protege nem persegue o publicitário. "Aliás, essa é uma das características que estamos imprimindo à política de segurança no Brasil. É uma política de segurança republicana, impessoal", afirmou Thomaz Bastos. As circunstâncias da prisão de Duda Mendonça não são o primeiro caso em que o PT estranha a atuação da PF em pleno governo Lula. Na avaliação dos petistas, a polícia tem divisões internas e ninguém tem controle sobre elas. Um dirigente do partido chega a compará-la a setores do Ministério Público que estariam "perseguindo" o governo e o PT. Um caso citado pelos petistas para exemplificar a afirmação de que a PF age sem controle e com motivação política foi a invasão, em agosto, da sede da Caixa Econômica Federal, em Brasília, para apreender documentos relacionados ao suposto caso de tráfico de influência, envolvendo o banco oficial e a multinacional americana Gtech. Naquela ocasião, o PT chegou a divulgar nota, chamando a ação da PF de "truculenta" e "inaceitável". A insatisfação do PT com a PF remonta, no entanto, ao início do governo Lula. Quando nomeou o delegado Paulo Lacerda, e não um petista, para comandar a Política Federal, o ministro Márcio Thomaz Bastos desagradou ao sindicato dos policiais federais, ligado ao PT. Em represália, os sindicalistas ameaçaram colocar um caminhão de abacaxis em frente ao Palácio da Justiça no dia da posse de Lacerda. A promessa acabou não sendo cumprida. Lacerda notabilizou-se por ter liderado as investigações que, em 1992, desvendaram o esquema de corrupção montado por PC Farias, o tesoureiro da campanha do presidente Fernando Collor. Foi nessa época que o atual ministro da Justiça o conheceu. Contratado por alguns dos acusados naquele caso para defendê-los na Justiça, Thomaz Bastos teve inúmeros contatos com o delegado. Foi desses encontros que surgiu uma forte admiração pela competência de Lacerda. No início do governo FHC, o delegado chegou a ser sondado, com a ajuda de Thomaz Bastos, para assumir a PF, mas recusou a oferta. Depois, ele se aposentou da PF e passou a trabalhar como assessor das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). Lacerda é considerado o diretor da PF mais próximo de um ministro da Justiça de que já se teve notícia em Brasília. Diariamente, às 8h30, Thomaz Bastos despacha com ele, que recebeu do ministro carta branca para combater a corrupção interna na PF e atuar com independência política.