Título: Parmalat retoma espaço na prateleira e investe em mídia
Autor: Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2004, Empresas, p. B-4

Dez meses após a descoberta da fraude bilionária no grupo italiano, a Parmalat volta a respirar no Brasil. A empresa obteve em agosto o primeiro lucro operacional de sua história pré e pós escândalo (paradoxal para quem está em concordata) e vai voltar a investir em publicidade. Conhecida pelo marketing agressivo que turbinou sua expansão nos anos 90, a Parmalat fará a partir de novembro uma campanha nos pontos-de-venda. O objetivo é chamar a atenção para seus produtos, que desapareceram das gôndolas na fase mais dramática da crise. Propaganda em rádio e emissoras de televisão também está nos planos da empresa. A Talent, agência responsável pela publicidade nos supermercados, não comenta o assunto. O presidente da Parmalat, Nelson Bastos, não revela números, mas diz que será uma campanha "modesta", bem diferente da estratégia anteriormente adotada pela companhia. "Em alguns casos, chegava-se ao absurdo de o investimento em marketing superar a margem que o produto gerava para a empresa. Não vamos fazer isso", afirma Bastos. Em 1999, quando ainda era saudável, a companhia chegou a gastar R$ 25 milhões em propaganda, segundo ranking do "Meio & Mensagem" (M&M). No ano passado, ainda segundo o M&M, os gastos somaram R$ 12,8 milhões. Bastos assumiu a presidência da Parmalat em abril - quando um acordo entre a matriz italiana e o juiz Carlos Henrique Abrão, da 42ª Vara Cível de São Paulo, pôs fim à intervenção na companhia. O executivo é sócio da Íntegra, consultoria contratada pelo interventor da Parmalat na Itália, Enrico Bondi, para reestruturar os ativos no mercado brasileiro. Naquela época, a empresa estava no ponto mais baixo de sua viagem ao fundo do poço: fábricas paradas, produção reduzida a 20% da capacidade, falta de crédito para capital de giro e uma debandada de fornecedores. Para arrumar a casa, a nova diretoria fez uma análise da carteira de produtos. Ao contrário da expectativa inicial, não houve redução do portfólio. A Parmalat ainda mantém 536 itens, entre lácteos, atomatados, biscoitos e bebidas. Não é muito diferente do número anterior à crise. Mas foram feitas mudanças significativas. A companhia deixou de lado a distribuição nacional e partiu para um modelo regional. "A Parmalat tinha prejuízo com o transporte. O frete é muito caro", explica Bastos. Por isso, alguns produtos não serão mais vendidos em todo o país. É o caso do leite Natura Premium, que é feito em Carazinho (RS) e será distribuído no Sul e no Sudeste. O faturamento da empresa, que havia despencado para R$ 30 milhões em fevereiro, voltou a crescer gradualmente e ficou perto de R$ 80 milhões em setembro. O número ainda é distante da receita mensal de cerca de R$ 120 milhões que a Parmalat apresentava até o ano passado, mas Bastos diz que a companhia não voltará mais a ter aquele porte. A estratégia é manter a operação mais enxuta, porém lucrativa. O executivo não revela qual foi o resultado operacional obtido em agosto. Diz apenas que foi positivo, "mas muito pequeno". A Parmalat também começa a entrar no mercado de produção de insumos para outras indústrias - segmento que já representou vendas de R$ 10 milhões em setembro. Como parte dessa estratégia, a empresa avalia a possibilidade de fabricar queijo (mercado onde nunca atuou) na longínqua fábrica de Ouro Preto do Oeste, em Rondônia. "É mais fácil transportar queijo do que leite", justifica Bastos. O produto não chegará ao consumidor final com a marca Parmalat. Será vendido para outras indústrias de alimentos. Enquanto tenta reerguer a operação, Bastos costura um plano para pagar os credores da Parmalat Alimentos e da holding Parmalat Participações. Conforme antecipou o Valor em julho, a proposta apresentada pela Íntegra prevê a criação de uma nova empresa operacional, que terá como acionistas instituições financeiras que fizeram empréstimos à holding. Inicialmente, essa empresa não terá máquinas nem fábricas. Alugará os ativos (as unidades de produção da Parmalat) de um fundo imobiliário, cujos cotistas serão, em sua maioria, os credores da Alimentos. Esse plano ainda está sendo analisado pelos bancos, que formaram um comitê para negociar com a empresa. Se aprovado, será assinado e levado à Justiça, onde corre o processo de concordata das duas empresas. Segundo representantes de credores, o plano estima o pagamento de 100% da dívida da companhia operacional e de 10% dos compromissos da holding em dez anos. A Parmalat Alimentos registrou na concordata dívida de R$ 500 milhões. A Participações reconheceu R$ 1,6 bilhão. (Colaborou Christiane Martinez, de São Paulo)