Título: FMI confirma negociação de acordo com Argentina
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2005, Finanças, p. C8
Reestruturação Entendimento pode tirar país do isolamento financeiro
O Fundo Monetário Internacional (FMI) informou ontem ter recebido o pedido da Argentina para que comecem as negociações de um novo acordo entre o país e a instituição. Segundo comunicado emitido pelo diretor-gerente da entidade, Rodrigo Rato, as reuniões com os representantes do governo argentino devem acontecer a partir do mês que vem, depois de um encontro da direção do Fundo para definir sua visão sobre os termos do programa a ser negociado. No início da semana, o ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, havia dito que o diálogo começaria no próximo dia 16. A conclusão das negociações com o FMI é considerado o passo mais importante para que a Argentina encerre seu longo período de isolamento da comunidade financeira internacional, iniciado com o default de dezembro de 2001. O acordo com o Fundo, que previa a rolagem por três anos de US$ 13 bilhões, foi suspenso em agosto de 2004, justamente porque o país não queria interferências do organismo na negociação com os credores. O processo de reestruturação foi concluído no mês passado com a troca de 76% dos papéis em default por novos bônus. Desde então, as agências de classificação de risco vêm alterando de maneira positiva a nota dos títulos da dívida do país. Ontem foi a vez da Moody's, que elevou o rating dos papéis argentinos em moeda estrangeira de "Caa1" para "B3". A melhora ocorreu tanto nos títulos reestruturados quanto nos emitidos após o default de 2001, e a dívida em moeda local também recebeu a mesma nota. A avaliação feita pela Moody's acompanha a opinião manifestada anteriormente pela Fitch e pela Standard & Poor's. Na negociação entre o FMI e a Argentina, os sinais dados até agora pelos dois lados indicam que o diálogo será tenso. No comunicado divulgado ontem, Rato disse que o acordo foi interrompido devido à decisão argentina de "adiar elementos estruturais chaves do programa até a conclusão da reestruturação da dívida". Isso indica que o Fundo deve tentar condicionar o acordo a medidas como a renegociação dos contratos com as empresas de serviços públicos privatizadas, que caminha a passos lentos. O diretor-gerente do FMI também indicou que as condições para o acordo devem ter como base as conclusões da avaliação anual de sua economia concluída pelo Fundo no mês passado. O texto da chamada revisão do artigo 4º não foi divulgado oficialmente, mas trechos do documento obtidos pela imprensa argentina mostram críticas ao governo. O documento elogia a recuperação da economia desde a crise de 2001, mas diz que ainda persistem dúvidas sobre se a Argentina está ou não caminhando rumo ao crescimento sustentável. O texto também critica a estratégia do BC de realizar fortes intervenções no mercado de câmbio para manter o peso desvalorizado e diz que o país tem de gerar um superávit primário de 4,5% do PIB para poder arcar com os compromissos de seu endividamento. O governo propõe 3% como meta. A percepção quase unânime entre analistas é que o acordo não deve sair antes do fim deste ano, porque o presidente Néstor Kirchner enfrenta eleições parlamentares em outubro e considera a disputa decisiva para consolidar seu poder dentro do PJ (Partido Justicialista, peronista). Dessa forma, Kirchner deve tentar usar os choques com o FMI como combustível para alimentar sua popularidade.