Título: Furlan critica proposta de déficit nominal zero
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Brasil, p. A2
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, demonstrou ontem preocupação com a proposta de déficit nominal zero defendida pelo Ministério da Fazenda. Comparando o setor público com uma empresa, ele disse que a idéia "parece colocar o tesoureiro como responsável pela última linha do balanço (lucro), e não apenas pelo resultado financeiro". Segundo Furlan, "uma empresa, um empreendimento, um país tem um horizonte estratégico" e "quando se deixa a visão da tesouraria predominar sobre a visão estratégica, você tem um resultado financeiro, mas o resultado do empreendimento pode não ser bom". A proposta da equipe econômica consiste em cortar os gastos do governo para zerar o déficit do setor público mesmo após o pagamento dos juros da dívida. Ao ser questionado se suas afirmações eram uma crítica à proposta, Furlan respondeu que se trata de "uma reflexão", pois os resultados do país são um trabalho conjunto. "Há temas que estão em discussão e cada um de nós tem o direito e a obrigação de colocar sua opinião", disse Furlan, ressaltando que sua pasta se chama Desenvolvimento e que, portanto, é o porta-voz do empresariado. "O importante é que o presidente Lula ouve e dialoga muito com o nosso segmento." Furlan participou ontem da posse da diretoria da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), em São Paulo. Um novo arrocho fiscal gera preocupação em parcelas do setor empresarial, que temem cortes ainda mais profundos do investimento público. O governo encarregou o deputado Delfim Netto (PP-SP) de conseguir o apoio dos empresários para a proposta. Sensível por conta da crise política, o governo só enviará o projeto ao Congresso com amplo suporte. Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), declarou apoio à proposta de déficit nominal zero. "Apoiamos totalmente. Eu já tenho falado em superávit nominal há algum tempo", disse o empresário, que também participou da cerimônia da Abrasca. Ele lembrou que Delfim faz parte do conselho de economia da Fiesp e disse não temer que a proposta prejudique os investimentos do governo, porque já são "inexistentes". Furlan contou que conversou "longamente" com o presidente Lula na quarta-feira passada. Segundo o ministro, é preciso manter o foco, apesar da crise política. Furlan lembrou o presidente que o dólar atingiu o menor patamar desde o início do governo. Na sua avaliação, a valorização do real está prejudicando as exportações de setores intensivos em mão-de-obra, como calçados. Segundo ele, o governo está estudando maneiras de estimular esses setores. Furlan acredita que os exportadores enfrentarão um grande desafio no segundo semestre. Para atingir a meta do governo de exportar US$ 112 bilhões, o país terá que manter exportações mensais de US$ 10 bilhões. Furlan antecipou que as exportações bateram recorde e atingiram esse patamar em junho. O resultado da balança do semestre será divulgado hoje.