Título: Relatório eleva previsão de IPCA para 5,8% com alta maior dos administrados
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Brasil, p. A3

O Banco Central elevou, de 5,5% para 5,8%, a projeção para a variação do IPCA em 2005, segundo o relatório trimestral de inflação, divulgado ontem. A deterioração da projeção oficial torna mais difícil atingir o objetivo central fixado para este ano, de 5,1%, embora o índice esperado esteja confortavelmente dentro da margem de tolerância do regime de metas de inflação, que admite até 7%. Mais em prazos mais longos - e mais relevantes para as decisões de política monetária - os índices projetados estão estáveis ou registram discreto recuo. Mais importante: em meados de 2006, a inflação cairia abaixo da trajetória das metas. Os dados significam que, em algum momento haverá espaço para cortar os juros básicos, hoje em 19,75% ao ano. Na visão do BC também reduziram-se os fatores de risco à trajetória de inflação, tanto na economia interna quanto no cenário internacional. Todos os trimestres, o BC divulga em seu relatório as projeções para o ano em curso e o seguinte. Em junho, os exercícios tomaram como parâmetro uma taxa básica de juros estável em 19,75% ao ano e um câmbio imóvel em R$ 2,47. A projeção é um índice de inflação que encerra 2005 acima da meta (em 5,8%) e cai lentamente no decorrer de 2006 até atingir 3,7% em dezembro, abaixo da meta de 4,5% fixada para o ano. O IPCA já ficaria abaixo da meta nos 12 meses encerrados em junho e setembro, quando o índice é calculado em 4,6% e 4%, respectivamente. Na projeção de março, a inflação estimada pelo BC para 2005 era um pouco mais baixa (5,5%), porém ligeiramente mais elevada para 2006 (3,8%). O IPCA deste ano passou a ser estimado em percentual maior porque a inflação observada de março a maio foi maior que a esperada; e porque elevou-se a projeção do BC para a alta dos preços administrados por contrato, de 6,9% para 7,3%. A projeção só não subiu mais porque, desde março, os juros básicos subiram (antes a taxa era de 19,25% ao ano), e o câmbio, mais baixo (R$ 2,70). Para 2006, a projeção de inflação cai 0,1 ponto percentual, justamente pelo juro mais alto e câmbio mais apreciado. Esses dois fatores mais do que compensam a alta projetada para os administrados para 2006, de 5,1% para 5,7%. O diretor de Política Monetária do BC, Afonso Bevilaqua, explicou que até o relatório de março o cálculo da alta dos administrados era feita de forma conjunta, com um modelo que considera variação cambial, IGP-DI e taxa de inflação externa. Após o anúncio de alguns reajustes de 2005, explicou, o BC passou a ter à disposição informações para calcular a variação de alguns destes preços individualmente. Segundo ele, não há inconsistência entre a queda recente dos IGPs, usado como parâmetro para alguns reajustes de tarifas, e a revisão para cima dos preços administrados. "Os reajustes de preços administrados não são exatamente iguais às variações dos IGPs", disse. Além do cenário básico de projeção, que toma como base as taxas de juros e câmbio vigentes no dia da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a autoridade monetária faz projeções alternativas com base nas expectativas do mercado. Os analistas privados esperam queda dos juros (18,5% ao ano no último trimestre de 2005 e 15,6% no final de 2006) e alta do câmbio (R$ 2,64 e R$ 2,84 nos mesmos períodos). A inflação projetada pelo BC, tomando como base estes parâmetros, ficaria acima da meta em 2005 (6,3%) e em 2006 (4,7%). A mensagem principal dessa projeção é que pode até haver espaço para o BC cortar os juros, mas não dentro dos parâmetros esperados pelo mercado financeiro. (AR)