Título: BC vê forte queda no investimento e espera PIB de 3,4%
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Brasil, p. A3

O Banco Central reduziu, de 4% para 3,4%, sua projeção para o crescimento da economia em 2005, contida em seu relatório trimestral de inflação. O destaque negativo é uma aguda queda nas projeções oficiais para o crescimento do investimento - agora estimado em 2,3%, ante 6,9% em dezembro de 2004. Outro dado negativo é a queda nas projeções para o consumo das famílias (de 3,2% para 2,3%). O destaque positivo são as exportações. Até dezembro, o BC calculava que os investimentos dariam uma contribuição de 1,4 ponto percentual no crescimento do PIB, então estimado em 4%. Agora, o efeito é estimado em apenas 0,5 ponto, numa variação de 3,4% do PIB. Ao apresentar os números, o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, disse que a queda nas projeções para os investimentos se deve às inversões abaixo do previsto verificadas neste início de ano. "Os investimentos voltarão a se expandir", disse o diretor do BC. Segundo ele, essa certeza é dada por dois indicadores antecedentes dos investimentos - nível de utilização da capacidade instalada e risco-Brasil -, que são positivos. Sobre a queda dos investimentos no início de ano, ele disse que isso se deve à queda da renda agrícola - que deprimiu inversões nesse setor - e a uma tendência natural de oscilação dos investimentos depois de uma trajetória de forte alta até o terceiro trimestre de 2004. O relatório de inflação faz referência também às "incertezas associadas à evolução da demanda diante do ciclo de (aperto da) política monetária". Questionado se, ao elevar os juros, o BC não estaria deprimindo investimentos - e prejudicando o aumento do PIB potencial e capacidade futura de crescimento -, Bevilaqua disse que a "casualidade é inversa". Segundo ele, ao combater a inflação o BC evita corrosão da renda e garante o crescimento sustentado da economia - fatores fundamentais nas decisões de investimento. Foi justamente a inflação não esperada em fins de 2004 e início de 2005, segundo o relatório, que provocou queda no consumo das famílias no primeiro trimestre - e reduziu as projeções do BC para o ano. Antes, acreditava-se que o consumo das famílias daria uma contribuição de 2,2 pp para o crescimento do PIB, e, agora, de apenas 1,4 pp. O diretor do BC avalia que a queda da inflação, que começa a se verificar, deverá preservar a renda e puxar a economia daqui para o fim do ano. O fator positivo não esperado é demanda externa - com exportações crescendo 14,8% neste ano, ante 11% estimados em dezembro. As importações, por outro lado, cresceriam menos que o previsto - 11,5%, ante 13% projetados em dezembro pelo BC. Em termos líquidos, a contribuição da demanda externa para o PIB é calculada em 1,2 pp, ante 0,1 pp estimados há seis meses. Do ponto de vista da oferta, o setor agropecuário deverá registrar um crescimento de 4%. O crescimento é menor do que os 4,8% anteriormente previstos devido à quebra de safra. No setor industrial, a projeção caiu de 4,6% para 3,7% em decorrência dos fracos números divulgados no inicio do ano. O destaque positivo é a indústria extrativa, que deverá crescer 8,3%, em vez dos 4,1% inicialmente previstos, devido ao início da operação de uma plataforma da Petrobras no segundo semestre.