Título: Energia e telefonia dão alívio à inflação
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Brasil, p. A3

Conjuntura Consumidores residenciais terão redução de tarifa nas áreas das empresas Eletropaulo e Copel

Os reajustes das tarifas de energia e telefonia, que tradicionalmente fazem subir a inflação em julho, ficaram abaixo das previsões do mercado e do BC e darão inesperado alívio aos índices de preços. As agências reguladoras divulgaram ontem os reajustes anuais dos serviços de telefonia fixa e das tarifas da Eletropaulo, distribuidora que atende a capital paulista. Em ambos, os índices causaram reação positiva. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou a concessionária a aumentar seus preços em 2,25%, em média. É um valor preliminar, que deve cair um pouco, pois não incluía o IGP-M de junho, com deflação de 0,44%. Para as indústrias, o reajuste das tarifas varia de menos 0,89% a 10,96%. No entanto, para as tarifas de baixa tensão, pagas pelos consumidores residenciais, a queda será de 7,68%. Com a incorporação de PIS/Cofins, a Aneel estima que a redução ficará entre 2% e 2,5%. As tarifas entram em vigor em 4 de julho. Pouco depois, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) anunciou que os serviços de telefonia fixa aumentarão 7,27%, provavelmente a partir de segunda-feira. A publicação será feita hoje no "Diário Oficial" da União. Pela primeira vez, a cesta de serviços de telefonia terá reajuste linear para os produtos que a compõem: habilitação, pulso e assinatura básica. Segundo os cálculos da agência, o impacto no IPCA de julho ficará em 0,15 ponto percentual. Numa simulação em que a taxa de assinatura subia mais que os outros produtos, o impacto chegava a 0,20 ponto percentual. "O aumento está alinhado com as políticas do governo, de aplicar o reajuste da forma mais branda possível", afirmou o presidente da Anatel, Elifas do Amaral Gurgel. Os índices foram bem recebidos pelos especialistas em acompanhamento de preços. O próprio BC, no relatório trimestral de inflação, estima em 8,6% o reajuste da telefonia fixa. Para o professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-RJ, o índice da Eletropaulo é "surpreendente" e "excepcionalmente positivo". Com a queda nas contas de luz, Cunha pretende rever a projeção inicial de 0,3% para o IPCA de julho. Para ele, o impacto dos preços administrados na inflação de julho, que incluem também o aumento dos pedágios nas rodovias de São Paulo e da energia elétrica em Curitiba, deverá ser de 0,35 ponto percentual - a estimativa anterior era de 0,50 ponto. Fernando Fenolio, da Rosenberg, reduziu sua previsão para o IPCA, de 0,6% para 0,46%. Com a queda de 2,5% nos preços, o impacto no IPCA será de menos 0,14 ponto percentual. No Unibanco, o IPCA será revisto de 0,6% para 0,4%. No ano, o indicador ficará em 5,8%, ante uma projeção de 6%. Na avaliação de Adriano Lopes, economista do banco, o câmbio valorizado tem ajudado a inflação a convergir para o centro da meta estipulada pelo BC. Por outro lado, a definição do reajuste de 7,3% nos serviços de telefonia fixa já estava computada nas estimativas dos analistas e, por isso, não traz impacto para a projeção do indicador de preços ao consumidor de julho. Na semana passada, a Aneel autorizou aumento médio de 7,80% nas tarifas da Companhia Paranaense de Energia (Copel), que passou a valer em 24 de junho. Para consumidores de baixa tensão, o reajuste ficou negativo em 0,05%, sem contabilizar o PIS/Cofins. Uma combinação de diversos fatores diminuiu a correção de tarifas da Eletropaulo, que pedia aumento médio de 23,2%. A distribuidora projetava IGP-M acumulado em 12 meses de 9,7%. Usava uma cotação do dólar de R$ 2,70 para o cálculo das despesas com a compra de energia de Itaipu. Também solicitava um ajuste, de R$ 8,2 bilhões para R$ 13,2 bilhões, da sua base de remuneração - o montante de investimentos realizados na prestação de serviços. A análise da agência foi diferente. Ela utilizou estimativa de 8,03% para o IGP-M em 12 meses - que será reduzida nas próximas horas, por absorver o índice recém-divulgado de junho. Para o dólar, pegou a cotação de R$ 2,40 para balizar os cálculos de Itaipu, de onde vem mais de 25% da energia fornecida à Eletropaulo. A base de remuneração foi elevada para R$ 9,8 bilhões, bem menos do que o pleito da concessionária. Também puxaram o reajuste para baixo a redução de custos "não-gerenciáveis", já que a Eletropaulo comprou energia a preços baixos no leilão de dezembro, e a aplicação do "fator X" - projeção dos ganhos de produtividade nos próximos anos, que resulta em desconto. O fator X da Eletropaulo é 2,74%. "A tendência dos reajustes é que fiquem mais comportados", disse o superintendente de regulação econômica da Aneel, Cesar Antonio Gonçalves, ressalvando que ajustes em bases de remuneração provisórias podem elevar os índices. No caso da telefonia, o reajuste de 7,27% é nacional. Para as ligações de orelhões, o aumento foi de 7,37%. As chamadas de longa distância nacional ficarão 2,94% mais caras. No caso das ligações internacionais, haverá queda de 7,9%. (colaborou Raquel Salgado)