Título: Taxa de investimento atinge 19,9%, a maior desde 2001
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Brasil, p. A4

SÃO PAULO - A taxa de investimento da economia brasileira foi de 19,9% no primeiro trimestre deste ano, a maior para o mesmo período desde o primeiro trimestre de 2001 (20,6%), mas considerada por especialistas insuficiente para impulsionar um crescimento sustentado da economia brasileira a uma taxa superior a 3%.

A taxa corresponde à fatia das inversões em máquinas e equipamentos e na construção em relação ao valor total do Produto Interno Bruto (PIB). Já a taxa de poupança bruta (renda disponível menos consumo) foi de 22,5% do PIB, ficando abaixo dos 23,2% do primeiro trimestre de 2004.

De acordo com números divulgados ontem pelo IBGE, o PIB brasileiro a preços correntes foi de R$ 432,61 bilhões de janeiro a março deste ano. Os investimentos somaram R$ 87,47 bilhões e a poupança foi de R$ 98,8 bilhões. Os números complementam a divulgação feita no final de maio, quando o IBGE tornou público que o PIB no primeiro trimestre cresceu apenas 0,3% em relação ao trimestre anterior e 2,9% em comparação ao primeiro trimestre de 2004. A variação do PIB do segundo trimestre, encerrado ontem, só será conhecida no final de agosto.

Apesar de ter sido maior que a do primeiro trimestre de 2004 (19,1%), e que a do trimestre anterior (19,4%), a taxa de investimento do primeiro trimestre de 2005 foi um ponto percentual menor que o pico do ano passado (20,9%) atingido no terceiro trimestre do ano passado.

A gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, advertiu que há problemas sazonais para se comparar a taxa de um semestre com a de trimestres diferentes. A taxa acumulada em quatro trimestres ficou em 19,8%, ligeiramente maior que a dos quatro trimestres encerrados em dezembro de 2004 (19,6%).

Rebeca ressaltou também que, apesar de a taxa, que é uma proporção do valor do PIB, ainda ser maior que a do primeiro trimestre do ano passado, o volume de investimentos na economia brasileira está em processo de desaceleração, após dois trimestre consecutivos de queda em relação ao trimestre imediatamente anterior - 3,9% no quarto trimestre de 2004 e 3% no primeiro deste ano. Em relação ao primeiro trimestre de 2004, o volume cresceu 2,3% no primeiro deste ano, contra 2,9% do PIB. Quando o volume começa a cair, a taxa de investimento tende também a ficar menor em algum momento, a não ser que o PIB caia na mesma proporção, o que é ainda pior.

O economista Estêvão Kopschitz, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), fez um exercício com a taxa de investimento trimestral desde 1991. Ele constatou que a taxa média de períodos longos só foi abaixo de 19% entre o quarto trimestre de 2001 e o quarto trimestre de 2003, e entre o primeiro trimestre de 1991 e o primeiro trimestre de 1993.

Em ambos os casos, a taxa média ficou em 18,1%. Em comum entre eles, momentos de crise. Do Plano Collor, seguido da crise política que derrubou o ex-presidente Fernando Collor de Mello, nos anos 90. E do apagão, seguido da crise eleitoral de 2002 no período recente.

Entre esses dois períodos, a taxa média foi de 19,9%, enquanto a economia cresceu a uma média de 2,9%. " Ou seja, essa taxa tem sido compatível com um crescimento um pouco abaixo de 3% " . Para crescer mais, a gente precisa de uma taxa de investimento maior " , concluiu Estêvão Kopschitz. Segundo os estudos do Ipea, para crescer sustentadamente a uma taxa de 5% ao ano o Brasil precisa ter uma taxa de investimento média de 25% ao ano.

O comportamento da taxa de investimento frustrou o economista Flavio Castelo Branco, coordenador de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI). " Sabemos que a economia cresceu muito em 2004, aproveitando a ociosidade que existia, decorrente do baixo crescimento em períodos anteriores. Para que se caracterize um ciclo de crescimento sustentado, só aumentando substancialmente a taxa de investimento, o que esses números não estão refletindo " , lamentou.