Título: Empresas prevêem vendas em alta e recuo da Selic no segundo semestre
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Especial, p. A14

Empresas de diferentes setores confiam em bom desempenho dos negócios e aumento de faturamento no segundo semestre de 2005. A expectativa de redução da taxa de juros pelo BC é uma das principais causas do otimismo que prevalece em várias das companhias ouvidas pelo Valor. O presidente da General Motors do Brasil, Ray Young, por exemplo, prevê bom volume de vendas no mercado interno no segundo semestre. Ele conta com a tendência de queda nos juros, conseqüência da decisão do BC de manter a taxa Selic na última reunião do Copom. "Estou contente, isso é importante para a confiança do consumidor." O otimismo de Young em relação à demanda interna é tão elevado, que já se programa para, no segundo semestre, tentar vender no mercado brasileiro os carros que deixará de exportar por conta da valorização do real. Segundo ele, a GM trabalha com prejuízo operacional no mercado externo e lucro no mercado interno. "Isso garante nosso equilíbrio", explica. A Intelbras, fabricante de aparelhos telefônicos de São José (SC), também espera um segundo semestre forte, com crescimento da receita superior a 10%, por conta, entre outros fatores, da expectativa de corte da Selic, segundo Altair Silvestri, presidente da empresa. A Intelbras pretende atingir 100% da capacidade instalada até o fim do ano, contratar cem novos funcionários e abrir mais um turno na linha de montagem. A White Martins é outra empresa que prevê faturamento em alta no semestre, após fechar o primeiro semestre com crescimento de 10% no volume de vendas de gases industriais, um suprimento importante para medir do nível de atividade nos vários segmentos da indústria. Segundo o presidente da empresa, Domingos Bulus, alguns setores, como o siderúrgico e o petroquímico, não aumentaram as compras. Em outros, como alimentos e bebidas, o crescimento foi expressivo. Bulus disse acreditar que o segundo semestre será melhor e aposta na recuperação da siderurgia, graças, especialmente, ao crescimento das exportações para a China. Apesar das incertezas em relação à crise política, a Nivea, multinacional alemã do segmento de cosméticos, também está otimista e espera manter as vendas no mesmo ritmo do primeiro semestre - quando a companhia registrou crescimento de 21% em relação ao mesmo período do ano passado. "Esperamos manter nossos patamares de vendas", afirma Wagner Lungov, diretor de marketing. A Marcopolo, maior fabricante de carrocerias de ônibus do país, com sede em Caxias (RS), mantém uma dose de otimismo para a segunda metade do ano, apesar da retração das vendas domésticas e da perda de margens nas exportações devido à valorização do real no primeiro semestre. A avaliação é que os negócios no mercado interno devem se recuperar e os embarques ao exterior permitirão atingir receita líquida consolidada de R$ 1,74 bilhão no ano. Conforme o diretor de relações com investidores, Carlos Zignani, no acumulado do ano as vendas internas deverão cair em volume, mas empatar em valores com 2004, graças aos reajustes feitos para compensar aumentos de custos. "Junho deve ser o fundo do poço e em julho a situação começa a se recuperar", disse Zignani. O grupo Randon, de Caxias do Sul, que opera nos segmentos de implementos rodoviários, autopeças e sistemas automotivos, projeta elevar em 20% a receita bruta total neste ano, ante os R$ 2,3 bilhões apurados em 2004. Só no primeiro trimestre, a receita líquida consolidada cresceu 32%, para R$ 467 milhões, lembra o diretor de relações com investidores, Astor Schmitt. As exportações avançaram de US$ 21 milhões para US$ 34 milhões. Mais pessimista está a indústria de alimentos Vilma, de Minas Gerais. A empresa decidiu antecipar, para junho, parada para manutenção de três dias na linha de produção de macarrão, por causa das baixas vendas de maio. "Pretendíamos parar mais para frente, mas o declínio das vendas nos levou a fazer ajustes no planejamento de produção", contou o vice-presidente da indústria, Cézar Tavares. Para o segundo semestre, a direção da indústria não prevê melhora no cenário. "Vamos ter disputa de preços muito acirrada entre as indústrias e declínio das marcas", prevê Tavares. "Vamos ter de fazer grande esforço para não perder para o ano passado." (Chico Santos, Daniela D ? Ambrosio, Marli Olmos, Sérgio Bueno, Vanessa Jurgenfeld e Ivana Moreira)