Título: PMDB indica Saraiva Felipe para a Saúde
Autor: Raymundo Costa e Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Internacional, p. A11

Crise Na Esplanada dos Ministérios existe a expectativa de que a reforma saia até o início da próxima semana

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aguarda pelos nomes do PMDB para finalizar a reforma ministerial, que deve ser anunciada entre hoje e segunda-feira. Ontem, a bancada do partido na Câmara fechou com o nome do deputado Saraiva Felipe (MG) para o Ministério da Saúde, mas ele ainda estava em dúvidas se abria mão de se candidatar à reeleição no próximo ano, condição exigida pelo presidente aos novos ministros. Ontem, o ministro Humberto Costa informou a auxiliares mais próximos que está de saída. Mas, na Câmara, um grupo de deputados do PT iniciou um movimento para pedir a Lula por sua permanência. Além de Costa, devem deixar o governo os ministros Ricardo Berzoini (Trabalho), Romero Jucá (Previdência), Agnelo Queiróz (Esportes) e Eunício Oliveira (Comunicações). O PMDB trabalha com a hipótese de indicar nomes para quatro ministérios: Minas e Energia, Saúde, Previdência e Comunicações ou Cidades. O partido esperava finalizar as consultas durante a madrugada ou hoje de manhã para levar as indicações a Lula. Para Minas e Energia deve ser indicado o nome do atual presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau, na cota do ex-presidente e senador José Sarney. O outro nome a ser preenchido por indicação da bancada do Senado é o da Previdência Social. O ministro Romero Jucá (RR) deve voltar ao Senado e há possibilidade de ser designado líder do governo no Congresso. Há três candidatos na bancada: Hélio Costa (MG), Gerson Camata (ES) e Leomar Quintanilha (TO). As chances de Hélio Costa dependem da evolução da situação de Saraiva Felipe, mineiro como ele. Saraiva é um nome que agrega a bancada na Câmara. O deputado já disputou o cargo do líder José Borba (PR) como candidato do grupo que se opõem à ampliação do espaço do PMDB no governo, apoiado inclusive pelo ex-governador do Rio, Anthony Garotinho. De certa forma, agrada também a José Sarney - ele foi secretário-geral do ministério da Saúde durante o governo do ex-presidente da República. O outro nome da Câmara pode ser o de um técnico. O PMDB esperava uma definição de Lula sobre quarto ministério que deve ocupar. O partido gostaria de manter as Comunicações, mas o presidente ainda pensava em fundir o ministério a outra Pasta. A opção seria o Ministério das Cidades. Neste caso, Lula poderia reservar o Ministério da Saúde para outra composição. É forte a pressão do PT para manter a Pasta com alguém do partido ou pelo próximo à legenda. Lula já conversou com os ministros sobre seus projetos políticos em relação a 2006. Os ministros Tarso Genro (Educação) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) devem permanecer no Ministério. O presidente também gostaria de manter o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, embora ele seja pelo menos candidato à reeleição a deputado federal, pelo PSB de Pernambuco. O ministro Eunício Oliveira (Comunicações) é candidato a qualquer coisa pelo Ceará - deputado, senador ou governador -, mas sai porque porque perdeu o apoio da bancada do PMDB na Câmara. A reforma deve privilegiar ministros que efetivamente tenham poder de articulação com o Congresso. O problema de Lula é ter perdido a base de sustentação política. Outro cearense, o ministro Ciro Gomes, ainda é visto pelos assessores de Lula como o "coringa do presidente", que aceitaria uma "convocação" para eventual troca de Pasta. O ministro, no entanto, já teria informado o presidente que deseja permanecer na Integração Nacional para concluir o projeto de transposição do Rio São Francisco. Curiosamente, esse projeto foi o que fez o PMDB se desinteressar pelo ministério - a proposta divide os Estados do Nordeste. Ao PMDB, ao presidente Lula disse que pretende manter o ministro Aldo Rebelo no governo, em outra Pasta que não a da coordenação política. A tendência do presidente ainda é pela extinção do ministério, mas o PT tinha como certo ontem à noite que o ministro Jaques Wagner, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, receberá a função hoje exercida por Aldo Rebelo. Wagner ainda tem dúvidas sobre abrir mão de sua candidatura ao governo da Bahia. Uma das alternativas para Aldo seria o Ministério do Trabalho, no lugar de Berzoini, mas a Pasta é uma espécie de "cadeira cativa" da CUT (Central Única dos Trabalhadores). PC do B e PT disputam o espaço sindical. A opção poderia ser o deslocamento de Olívio Dutra, que ainda estava em dúvidas sobre se abre ou não mãos se ser candidato em 2006. Alguns auxiliares do presidente têm aconselhado Lula a indicar um nome do PP, possivelmente para o Ministério dos Esportes de Agnelo Queiróz, do PC do B. Ontem, Lula reuniu com cerca de 20 ministros após solenidade do Planalto, mas não tocou na reforma. Auxiliares próximos insistiam que o presidente reserva "uma surpresa", talvez um "medalhão" da sociedade. A transferência da Secretaria de Direitos Humanos para o Ministério da Justiça e a de Pesca para o da Agricultura ainda é uma possibilidade. Lula espera finalizar as consultas hoje, mas o anúncio do novo ministério pode ficar para amanhã ou segunda-feira.