Título: Jefferson diz que mensalão pode ter continuado depois de janeiro
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Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Política, p. A8

BRASÍLIA - O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), afirmou ontem ao depor na CPI dos Correios que o chamado " mensalão " pode ter continuado sendo pago este ano. Até o depoimento de ontem, o petebista afirmava que a prática havia cessado após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter sido comunicado, em janeiro. Referindo-se ao publicitário mineiro Marcos Valério como " versão macaqueada de PC Farias " , o petebista afirmava que o empresário sacava " R$ 1 milhão por dia " no escritório do Banco Rural que fica no nono andar de um prédio comercial em Brasília.

" Neste escritório tem um agência de pagamento e assessores de deputados tem ido ao prédio apanhar R$ 30 mil ou R$ 40 mil. Não sei se exatamente no presente, mas até há muito pouco tempo atrás sim. E todas as pessoas que entram neste prédio são identificadas " , afirmou Jefferson. Durante o seu depoimento, Jefferson disse que o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu e os dirigentes petistas Delúbio Soares e Sílvio Pereira operavam todo o esquema de cooptação de parlamentares, isentando expressamente o secretário de Comunicação Social, Luiz Gushiken, de qualquer envolvimento. O deputado afirmou aos integrantes da CPI que aceita participar de uma acareação do Delúbio e José Dirceu na hora que os parlamentares quiserem.

Jefferson afirmou que foi procurado pelo ex-diretor de Engenharia de Furnas Centrais Elétricas, Dimas Toledo, a pedido de Dirceu e com a intermediação do tesoureiro do PT, Delúbio Soares. " Eu vou acionar o Delúbio e o Dimas vai procurar você " , contou ter ouvido o petebista.

Neste encontro, conforme Jefferson já havia relatado ao jornal " Folha de S.Paulo " e confirmou na CPI, Toledo confessou que desviava R$ 3 milhões mensais da estatal, sendo que R$ 1 milhão era destinado para o PT nacional e outro R$ 1 milhão para o PT mineiro. Segundo o petebista, Dimas o visitou durante a madrugada para expor ao petebista, por solicitação do ministro, " como funcionava o esquema em Furnas " .

Com hematomas no rosto em razão de um alegado acidente doméstico, Jefferson começou seu depoimento fazendo ameaças veladas aos integrantes da CPI. Insinuou que os 16 deputados e 16 senadores que o inquiriam fraudaram suas prestações de contas eleitorais. " Trouxe aqui a prestação de contas minha e a de todos vocês. Não há eleição de deputado que custe menos que R$ 1 milhão, e aqui a média de prestação de contas é de R$ 100 mil. Não há eleição de senador que custe menos que R$ 2 milhões e a média aqui de prestação de contas é de R$ 250 mil. Minha prestação também não distoa. Este processo já começa na mentira e não sou melhor nem pior do que qualquer um de vocês " , afirmou. Usou sua apresentação para bombardear a proposta de criação do financiamento público de campanha. " O financiamento público não elimina o caixa 2 das campanhas, ele soma crimes " , disse.

Estabelecendo a premissa de que todos os partidos possuem esquemas escusos de financiamento, Jefferson conseguiu minimizar a tentativa do PT de ressuscitar dúvidas sobre o auxílio do PTB ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por meio de recursos do ex- banqueiro José Andrade Vieira. O questionamento a Jefferson foi feito pelo deputado Henrique Fontana (PT-RS), que o acusou de ter apoiado o " governo mais corrupto do país " , o de Fernando Collor de Mello.

" Vossa Excelência tenta desqualificar meu depoimento. Meu partido nunca teve financiamento de bicheiro, e lá no Rio Grande do Sul foi um escândalo " , alfinetou Jefferson, recordando as denúncias de suposto financiamento do jogo do bicho à campanha do petista Olívio Dutra.

O petebista se negou também a dizer como distribuiu os R$ 4 milhões que teria recebido do PT para a campanha eleitoral do ano passado. " Isso morre comigo. Não conto nem amarrado na árvore levando facão. Assumo toda responsabilidade civil e criminal " . Jefferson disse que 70% deste total era oriundo do Banco do Brasil e o restante, do Rural.