Título: Faltam provas à defesa de Marcos Valério
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Política, p. A8

BRASÍLIA - Nos depoimentos que estão sendo tomados há uma semana, tanto na CPI dos Correios, como na Comissão de Sindicância da Câmara e no Conselho de Ética, em inquéritos que apuram denúncias de corrupção em estatais e pagamentos de propina a parlamentares, um nome já freqüenta todas as suspeitas de ação irregular: o do publicitário Marcos Valério.

Ele foi acusado pelo deputado Roberto Jefferson de ser um dos operadores do mensalão, o homem da mala, que faz pagamentos, e está sendo assim considerado nas investigações, perguntas e comentários dos parlamentares. " Em todo este período de investigação pouca coisa avançou contra os políticos acusados em termos de provas, mas contra o publicitário muitas coisas estão sendo comprovadas " , disse um deputado que participa das investigações.

A maior parte dos parlamentares ouvidos - que tiveram acesso aos depoimentos de Marcos Valério na Comissão de Sindicância e à Polícia Federal - acreditam que até o momento não é possível confirmar se o publicitário está envolvido em um esquema de corrupção que envolve políticos, mas são unânimes em afirmar que há diversas irregularidades nas contas do publicitário e de suas empresas.

Para eles, o maior problema até agora é a falta de explicações para os elevados saques que Valério fez entre julho de 2003 e maio de 2005, que teria ultrapassado R$ 40 milhões. " Talvez não seja um caso de corrupção, mas certamente é um grave caso de lavagem de dinheiro que precisa ser profundamente investigado " , afirmou outro deputado, que preferiu não se identificar, para não fazer pré-julgamento.

Cresce também, a cada dia, as suspeitas sobre a existência real das nove fazendas na Bahia e que seriam da propriedade de Valério ou de suas empresas. Depois de afirmar que os saques eram utilizados para a compra de gado - justificando que muitos criadores não aceitam pagamento em cheque -, Valério teria voltado atrás, tanto no depoimento à PF como à Sindicância, na quarta-feira, alegando que comprou ativos, pagou fornecedores e sócios, sem detalhar as movimentações. Valério teria dito, no depoimento à Câmara, que não pode dizer quais ativos comprou ou a destinação do dinheiro por questão de segurança, segundo relato de um dos parlamentares.

Sua situação ficou pior mesmo com a fragilidade de provas apresentadas. " Ele forneceu coisas de pouco valor, como notas fiscais de restaurantes para comprovar que não estava em Brasília em datas nas quais Jefferson acusou ter havido o pagamento de mensalão ou a transferência ilegal de recursos, porém isso é algo muito vago, não comprova efetivamente que ele estava em Belo Horizonte ou que é inocente " , afirmou um parlamentar.

Para alguns parlamentares oposicionistas participantes das investigações, as ligações das prováveis irregularidades de Valério aos políticos talvez ainda não tenham ficado claras pois até o momento a pessoa mais citada em todos os depoimentos que denunciam os esquemas de corrupção ainda não depôs: o tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

" A ausência dos dirigentes petistas na Comissão de Sindicância na quarta-feira é algo muito sério, parece que o petista quer aguardar o avanço das investigações para depois depor e assim não cair em contradições " , afirmou. Os depoimentos de Delúbio e de outros dirigentes foram cancelados, esta semana, sem justificativa convincente, e só devem ocorrer, na Câmara, em agosto. Na CPI, contudo, isso podem ser realizados ainda em julho.

A PF vai investigar mais um nome que poderá estar envolvido em saques no Banco Rural para financiar o esquema do mensalão. O empresário mineiro, Alexandre Vasconcelos Castro, identificado como a pessoa que fez alguns dos saques de valor superior a R$ 100 mil nas contas da SMP & B e DNA, prestou depoimento ontem e informou que nunca conheceu Valério ou funcionários de suas agências de publicidade. Castro revelou que fez os saques a pedido de um amigo e que não foi informado sobre qual seria a utilização do dinheiro.