Título: Governo afasta diretores de Furnas e pede inquérito à PF
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Política, p. A9

Diante das denúncias de um esquema de desvio de dinheiro em Furnas, o governo afastou ontem três diretores da estatal de energia e determinou à Polícia Federal que abra inquérito para apurar as irregularidades descritas pelo deputado Roberto Jefferson (RJ), presidente licenciado do PTB. Durante as investigações, ficarão afastados da empresa os diretores Dimas Toledo (Engenharia), Rodrigo Botelho Campos (Gestão Corporativa) e José Roberto Cury (Finanças). Nota divulgada ontem pela estatal informou que os diretores pediram licença dos seus cargos até que "as apurações necessárias sejam concluídas, de maneira a facilitar o andamento das mesmas". Em entrevista à "Folha de S. Paulo", Jefferson relatou a existência de um suposto esquema em que R$ 3 milhões seriam desviados de Furnas todos os meses. De acordo com o deputado, o dinheiro era dividido da seguinte forma: R$ 1 milhão iria para o diretório nacional do PT; R$ 1 milhão para o diretório petista de Minas Gerais, por meio de Botelho Campos; R$ 500 mil ficariam com os próprios diretores e R$ 500 mil seriam repartidos entre um pequeno grupo de deputados. Um dos acusados por Jefferson, o deputado Luiz Piauhylino (PDT-PE) divulgou nota negando ter indicado o diretor financeiro da estatal. Ele afirma que as nomeações para Furnas foram feitas em janeiro de 2003, quando pertencia ao PSDB, de onde saiu sete meses depois por "divergências políticas locais". O parlamentar filiou-se ao PTB, mas trocou pelo PDT. Jefferson afirmou que o esquema lhe foi contado por Dimas Toledo, cuja saída do cargo que ocupa em Furnas é especulada há meses. Segundo a entrevista, a indicação do diretor José Roberto Cury foi feita por ex-tucanos que se beneficiam da repartição de recursos de Furnas: os deputados Piauhylino, Osmânio Pereira (PTB-MG) e Salvador Zimbaldi (PTB-SP). O ministro interino de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, divulgou uma nota em que afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou uma apuração "rigorosa e imediata" das denúncias pelas diretorias da Eletrobrás e de Furnas. O ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, abriu inquérito na PF. De acordo com o relato de Jefferson, Lula foi consultado em 26 de abril sobre a manutenção de Dimas Toledo na diretoria da estatal. Lula afirmou que o manteria em Furnas. "Nada disso. O Dimas vai ficar", teria dito Lula a Jefferson. O deputado depôs ontem na CPI dos Correios e fez novas acusações sobre o financiamento de campanhas eleitorais do PTB pelo PT.