Título: PSDB acusa PT de boicotar aproximação
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Política, p. A10

Crise Para tucanos, presidente Lula não consegue separar disputa eleitoral em 2006 da governabilidade

Numa análise racional sobre a crise política, dirigentes do PSDB consideram possível fazer um pacto com o governo para discutir grandes temas nacionais ligados ao crescimento econômico - como a proposta em estudo do déficit nominal zero -, mas catalogam, ao mesmo tempo, uma série de "deslizes" e discursos agressivos de petistas no Congresso que afastam cada vez mais a legenda do PT. A razão central que impede uma aproximação institucional do PSDB com o PT, analisam tucanos da cúpula partidária, é a dificuldade do governo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em separar o debate da governabilidade da eleição de 2006. "Todos os nossos gestos de boa vontade ao governo são respondidos com agressão pelo PT. Prevalece, entre os petistas, a visão eleitoral sobre a visão da governabilidade. Olham para o PSDB como um concorrente, porque estão visando à ocupação do poder em 2007. É esse o dilema mortal do governo e de Lula", diz o líder do PSDB no Senado, senador Arthur Virgílio (AM). A crise é séria, acrescentam os tucanos, e não basta o presidente Lula dar ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a tarefa de articulador político em busca do apoio de parcelas do PSDB e PFL para o projeto econômico. Na opinião de dirigentes tucanos, Lula precisa de um braço-direito, um firme articulador político que se sente a seu lado e dê uma noção global do que está acontecendo em todas as esferas de governo e no Congresso e da instabilidade atual. "Eles são tão desaparelhados para enfrentar a crise política que acabam constantemente encurtando as faixas de possibilidade de diálogo com o PSDB. Os gestos agressivos dos petistas enfraquecem nossa postura de jogar água fria não na crise, mas na adrenalina que paira o país", diz Arthur Virgílio. Os tucanos têm um diálogo fácil com Palocci. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), por exemplo, já revelou ao ministro que quer uma discussão sobre a inclusão de metas variáveis de superávit na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). "Incluir o superávit anticíclico na LDO é uma bobagem, porque isso não funcionará em economias com problemas fiscais. A idéia é correta, mas aplicada de forma extemporânea", diz. Enquanto manifestam disposição para a conversa sobre grandes propostas nacionais e econômicas, os oposicionistas listam exemplos de atitudes e desarticulações do governo que dificultam o diálogo. Uma delas é a tentativa de instalação da CPI da Compra de Votos na Câmara, que teria como objetivo ressuscitar a denúncia de compra de parlamentares para aprovar a emenda da reeleição de FHC. Outra razão de bate-boca recente: o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), disse que poderia ser instalada a CPI do Cartão SUS caso a oposição insistisse na CPI dos Bingos. "A sociedade não fala em outra coisa, só quer saber de SUS no meio do escândalo do mensalão", ironiza o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), em reunião na sala de Palocci nesta semana, na qual Mercadante estava presente. Nesta reunião, os oposicionistas foram discutir o financiamento do metrô em quatro capitais. O Ministério da Fazenda fez concessões. Politicamente, no entanto, o resultado foi ruim. Um dia antes da conversa com a oposição, o ministro Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico) trouxe a Brasília o prefeito de Salvador, João Henrique, para comunicar-lhe previamente o acordo do metrô. Os petistas traçaram uma clara estratégia de defesa do partido e do governo, em evidência na última semana no Congresso, que é vincular também ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso as denúncias de suposto esquema de corrupção em órgãos públicos e pagamento de deputados da base aliada. Deputados e senadores do PT citam dados - na CPI dos Correios e na tribuna - para mostrar que as agências de publicidade SMP&B e DNA Propaganda, ambas com participação societária de Marcos Valério Fernandes de Souza, tinham inúmeros contratos na gestão do PSDB. Marcos Valério foi apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como o operador do mensalão, a suposta compra de votos de deputados. Até o momento, ele não consegue explicar suas movimentações financeiras milionárias, e tem uma incômoda vinculação com dirigentes do PT. "Enquanto a imprensa coloca no foco dos escândalos de corrupção pessoas ligadas ao governo e ao PT, o Ministério Público vem investigando, desde 2002, acusação sobre empresa de publicidade que tem entre os seus proprietários o sr. Marcos Valério", diz a senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA) ontem, em discurso no plenário. "A SMP&B teria recebido indevidamente R$ 5,4 milhões da Fundacentro, fundação no Ministério do Trabalho, durante o governo FHC", reitera a petista. A razão do discurso da senadora foi defender o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), cujos gastos da pasta com publicidade estão sendo questionados. "Há uma tentativa generalizada de se descredenciar todo o PT. Tenho a tranqüilidade de dizer que tem gente que não presta no PT - porque falo isso há 10 anos - na mesma proporção em que há gente que presta no PSDB e no PFL. Se foram cometidos erros por pessoas do PT, nós ficamos tão surpresos quanto a sociedade inteira. Se as denúncias forem comprovadas, queremos punição, mas não podemos fazer prejulgamentos, nem denúncias levianas", diz a petista ao Valor.