Título: Consumidor está disposto a gastar mais, diz pesquisa
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Empresas, p. B5

SÃO PAULO - Muito se fala do mercado de luxo nacional, mas a maneira com que os ricos brasileiros gastam seu dinheiro é ainda um mistério. Substituir essa especulação por dados é o que busca a pesquisa divulgada ontem pelo Programa de Administração do Varejo, da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (Provar/Fia-USP) e pela Canal Varejo.

Feita com 122 pessoas entre 39 e 59 anos, 60% deles homens e 40% mulheres, a sondagem procurou entender como esses entrevistados selecionados em clubes de alto padrão, condomínios e lojas de luxo desfrutam de seu tempo livre e como conceituam o luxo - possibilitando cruzamentos de dados que podem criar oportunidades de negócios no segmento de produtos premium (um patamar anterior à categoria de luxo).

A pesquisa, intitulada " Percepção do Consumo de Alta Renda: Perfil e Hábitos " , pode ser adquirida por R$ 790 e revela, entre outras coisas, que o consumo de bens de luxo ainda ganha bastante destaque em relação ao consumo de serviços de luxo - consideradas as opções culturais como cinema, teatros e museus que foram pesquisadas. Cerca de 45% dos entrevistados diz ir ao teatro mensalmente (sendo que 37% vai ao cinema), 88% diz ter hábitos de leitura e 24% não frequenta museus de arte.

" Notamos que poderia ser incrementado o investimento desse segmento (de público) em cultura. Há um grande investimento dessas pessoas no consumo de bens de luxo, mas pouco ainda em serviços de luxo, como o entretenimento " , diz Luiz Paulo Lopes Fávero, coordenador da pesquisa.

O levantamento identificou áreas nas quais o consumidor exercita o " preço hedônico " , um valor pessoal atribuído a um produto ou serviço que pode ter um preço absoluto alto, mas um preço relativo baixo. São segmentos em que o consumidor tem disposição de gastar valores acima da média por sentir-se pessoalmente retribuído. A pesquisa detectou que os consumidores tinham disposição de investir alto nos setores de alimentação (restaurantes com ambientes sofisticados) e em produtos de beleza e higiene e espera ainda mais opções nessas áreas. " Há oportunidades de negócios àqueles que investirem na especialização desses setores " , diz Fávero.

A pesquisa revelou ainda que 59,8% dos entrevistados não faz exercícios físicos. De acordo com Fávero isso se deve provavelmente ao fato de os entrevistados estarem na faixa etária em que, em geral, trabalha-se longas horas para garantir a compra de bens.

E o que é luxuoso para eles? Cerca de 79% deles acredita que luxo é comprar sem planejamento, mas com discrição. Essa reserva, para Fávero, deve-se à necessidade do consumidor proteger-se numa sociedade em que poucos detêm o mesmo poder econômico que ele.