Título: Petrobras mira a Ásia para abrir mercados
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Eu & Investimentos, p. F6

Campeãs da pauta Novos contratos podem duplicar vendas de álcool, que foram de 2,4 bilhões de litros em 2004

Maior exportadora em termos brutos do Brasil, a Petrobras espera reverter em 2005 o déficit comercial de sua balança de comércio. No momento, a maior estatal da América do Sul observa com grande interesse o mercado da China, e também do resto da Ásia, enquanto já prepara o segundo embarque de 20 mil metros cúbicos de álcool, equivalentes a 126 mil barris, para a Venezuela em julho. O diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, adianta que em agosto serão enviados mais 25 mil metros cúbicos, equivalentes a 157,5 mil barris. Para estudar as possibilidades de exportar álcool em grande escala para a Ásia, a Petrobras assumiu com a trading japonesa Mitsui e a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) um acordo para estudar oportunidades de fechar contratos de longo prazo para exportar para o Japão até 3 bilhões de litros de álcool por ano. A Petrobras e seus parceiros estimam que esse empreendimento poderá exigir investimentos de US$ 300 milhões a US$ 350 milhões em dutos e melhorias nos terminais de exportação. No momento, estão sendo feitos estudos de logística no Brasil e no Japão. Se o negócio for levado adiante, as exportações de álcool, que ficaram em 2,4 bilhões de litros no ano passado, devem dobrar. No rastro da busca por combustíveis mais limpos, a Coréia e a China também manifestaram interesse em se tornar compradores do insumo, para mistura à gasolina. "Nossa participação nesse negócio será feita comprando o álcool, transportando e usando nossa experiência de trading e a frota de petroleiros", explica o diretor da Petrobras. "Também vamos aproveitar a expertise da empresa nas áreas de transporte por dutos dedicados, já que temos tecnologia para colocar diferentes produtos claros em polidutos de transporte sem risco de contaminação." Não é por acaso que a Petrobras tem dois escritórios na Ásia - Cingapura e Pequim - em comparação com apenas um em Londres, que atende toda a Europa. Os outros ficam em Buenos Aires e Houston. Costa adianta que os escritórios na Ásia serão reforçados, com pelo menos mais cinco pessoas. Ele lembra que a China tem um consumo gigante e que ao instalar um escritório no país a Petrobras quer ampliar suas vendas. Atualmente a empresa exporta petróleo bruto do tipo Marlim e GLP para aquele país. Em 2004 a Petrobras comercializou na China US$ 350 milhões, e até junho de 2005, as vendas somavam US$ 190 milhões, dos quais US$ 160 milhões oriundos da venda de petróleo e US$ 30 milhões pelas venda de GLP. A Petrobras já vendeu cargas desses produtos no mercado "spot" para a PetroChina, Sinopec e Sinocheim, e o objetivo da estatal é ampliar as vendas e tentar firmar contratos de longo prazo. O chefe do escritório da Petrobras em Pequim, Marcelo Castilho da Silva, informa que a meta na China é fechar 2005 com vendas totais de US$ 400 milhões (US$ 50 milhões a mais do que no ano passado). Até 2010, a meta é contabilizar US$ 1 bilhão em vendas anuais de GLP, petróleo e outros produtos ainda não comercializados, como álcool. Considerando as vendas globais de petróleo bruto da estatal, 45% destinam-se aos Estados Unidos e Caribe, enquanto 25% vão para a Europa, 18% para a Ásia e 12% para a América Latina. Apesar de ser a maior exportadora do país desde 2002, a Petrobras ainda é deficitária quando as importações são abatidas das suas exportações. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), as importações de petróleo e derivados do país em 2004 custaram US$ 9,387 bilhões, contra exportações de US$ 4,637 bilhões, o que dá um saldo líquido negativo de US$ 4,750 bilhões na balança comercial brasileira. Os volumes são praticamente o dobro do que os de 2003, quando as exportações de petróleo e derivados somaram US$ 3,917 bilhões, contra importações de US$ 6,046 bilhões, que representaram um déficit de US$ 2,128 bilhões na balança comercial do setor. E até abril as exportações acumuladas em 2005 somavam US$ 1,520 bilhão, segundo dados da ANP. Paulo Roberto Costa tem dados diferentes, já que contabiliza apenas os da companhia, com exceção dos produtos processados na Refap, que tem contabilidade separada (tem 30% nas mãos da Repsol). Nas contas da Petrobras, até abril, a empresa tinha exportado US$ 1,79 bilhão. O diretor de abastecimento afirma que o quadro vai mudar ao longo de 2005. Isso porque a companhia começou o ano com aumento de produção de petróleo nos campos de Barracuda e Caratinga com o instalação das plataformas P-43 e P-48, o que vai ajudar a aumentar as vendas externas no ano. Outro ponto que tem ajudado é o aumento do processamento de óleo pesado nacional nas refinarias - que estão recebendo investimentos para instalação de unidades de coqueamento retardado - o que eleva a produção de gasolina, diesel e GLP, que têm maior valor agregado. Se de um lado os preços do petróleo em alta afetam os gastos da companhia, por outro suas vendas têm sido prejudicadas pela valorização do real frente ao dólar e pela diferença de preços entre o petróleo pesado que exporta e o petróleo leve que precisa importar do Iraque e Arábia Saudita para produzir lubrificantes. Isso sem contar que importa outros produtos de maior valor agregado, como GLP (gás de cozinha), diesel e nafta petroquímica. A estatal supre 100% das necessidades de nafta da PQU, 70% da Braskem e 50% da Copesul. E importa 30% do que vende. Isso significa que nem todos os derivados importados hoje no país são responsabilidade da companhia, já que as centrais se abastecem diretamente no exterior para suprir parte de seu consumo.