Título: Pagamento de dívidas reduz impacto
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Brasil, p. A5

O impacto do aumento do salário mínimo foi marginal no Nordeste. O discreto aumento no nível de consumo percebido em junho, dizem os empresários, é normal e foi provocado pelas tradicionais festas juninas. "A expectativa foi jogada para julho. O aumento do mínimo deve ter sido utilizado para o pagamento de dívidas", diz Edgard Wanderley, superintendente da indústria alimentícia pernambucana Cirol Royal. O executivo espera um crescimento entre 3% e 5% a partir deste mês. A Cirol Royal continua faturando cerca de R$ 4 milhões mensais, como antes da entrada em vigor do novo mínimo. Wanderley diz que nem mesmo nas cidades do interior, onde o salário mínimo tem um peso significativo junto às pequenas prefeituras e aposentados, houve mudanças significativas. O executivo vê dois motivos para isso. "O Nordeste está na entressafra canavieira, o que leva muita gente ao desemprego entre março e agosto", avalia. "Além disso, muitos aposentados contraíram empréstimos com descontos em folha. O aumento do salário mínimo, neste caso, está pagando estes empréstimos." A Cirol Royal atende cerca de 150 dos 184 municípios pernambucanos, além das regiões metropolitanas de Natal (RN), João Pessoa (PB) e Maceió (AL). A Esposende, rede varejista de calçados adquirida recentemente pela gaúcha Paquetá, também deposita suas expectativas em julho. Com 400 mil clientes ativos em seu cadastro (montado através de uma rede de 30 lojas nos Estados de Pernambuco e Ceará), a rede projetava um incremento de 8% nas vendas em junho. "Mas isto já era esperado em função das festas juninas e por conta do Dia dos Namorados. Estamos esperando julho para ver como o consumidor se comporta", afirma o diretor administrativo da Esposende, Sílvio Vasconcelos. O gerente nacional de vendas da paraibana São Braz, Walber Santos, sentiu um incremento no consumo, principalmente no interior, entre 10% e 15%. A São Braz produz café e alimentos derivados de milho e comercializa cerca de 300 mil toneladas mensais, volume que já conta com o incremento relacionado ao aumento do salário mínimo. Apesar do crescimento e do otimismo para os próximos meses, Santos observa que boa parte da população foi sacrificada em função da facilidade da aquisição de novos hábitos de consumo e por conta dos descontos de empréstimos consignados em folha de pagamentos. "Mas a diferença do novo mínimo deve ter estar sendo usada para pagar os débitos e também na compra de gêneros de primeira necessidade. Neste caso, existe um retorno ou aumento dos volumes adquiridos pelo consumidor, que encontrava-se sacrificado", avalia. Edison Rezende, presidente da Enashopp, empresa que administra quatro shoppings no Nordeste (três na Bahia e um em Natal), diz que com o Dia dos Namorados e as festas juninas, alguns setores, como calçados e vestuário, chegam até a ultrapassar as vendas de dezembro. Segundo Rezende, ainda não foi possível fazer um levantamento preciso sobre o peso do reajuste do mínimo para o aumento do consumo. "Em geral, o reajuste tem alguma influência, mas mais para atividades que têm apelo mais popular", disse. Em consultas informais, diz ele, percebe-se maior movimentação na venda de eletrodomésticos. Isso está ligado à estratégia dos lojistas de aumentar o número de parcelas nos programas de financiamento. Com prazo maior, o consumidor consegue fazer caber o valor da prestação nos R$ 40 de reajuste do mínimo. O crescimento das compras em junho não costuma se manter nas semanas subseqüentes, diz ele, o que evidencia o peso bem maior dos festejos de São João no avanço do consumo no Nordeste. O varejo vai enfrentar um período de baixa até meados de julho, quando começam as liquidações de inverno e chegam as primeiras coleções de primavera, nos casos de vestuário e calçados.