Título: Novo mínimo anima vendas no varejo
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2005, Brasil, p. A5
Conjuntura Reajuste promovido em maio aumenta massa salarial e favorece comércio de alimentos e vestuário
O aumento sofrido pelo salário mínimo em maio deve dar algum fôlego à economia nos próximos meses, principalmente para os setores que produzem bens semi e não-duráveis, como alimentos e vestuário, mais sensíveis a melhoras na renda. Pequenos supermercados e outros varejistas já notaram um discreto crescimento das vendas em junho, quando os trabalhadores que recebem o mínimo ganharam o salário pela primeira vez com o reajuste de 15,3% de maio. Segundo estimativas da MB Associados, com o aumento do mínimo de R$ 260 para R$ 300, a massa salarial vai aumentar R$ 5,486 bilhões em termos reais (descontada a inflação), somando os empregados do setor privado e os aposentados do INSS que recebem o mínimo. Na loja matriz do Armarinhos Fernando, na rua 25 de Março, as vendas aumentaram 7% em relação ao mesmo mês do ano passado. O resultado superou a estimativa do gerente-geral, Márcio Eduardo Gavranic, que esperava um crescimento de 5%. Para ele, o reajuste mais forte do mínimo neste ano ajuda a explicar o resultado na loja da 25 de Março, um dos principais centros de comércio popular de São Paulo. "Eu tenho certeza que o aumento do mínimo foi bom para o comércio", afirma ele, acrescentando que as vendas de artigos para festas juninas também contribuíram para o bom desempenho das vendas. Gavranic espera um crescimento de 4% em julho, que deve ser amparado em parte no reajuste do salário mínimo. Supermercados pequenos também notaram alguma melhora no movimento. É o caso do Supermercado Salomão, localizado no Parque Fernanda, em São Paulo. A proprietária, Margareth Toledo Martins, diz que as vendas cresceram 5% em relação ao mês anterior. Ela diz que aumentaram principalmente as vendas de alimentos e produtos de limpeza, produtos que costumam responder rapidamente à recuperação de renda. No Supermercado Confiança, em Francisco Morato (SP), as vendas tiveram aumento mais modesto em junho, de 2% em relação a maio. A tesoureira Rosângela Gouveia diz que as vendas normalmente melhoram em junho por causa do reajuste do mínimo, mas que desta vez o impacto foi pequeno, de apenas 2% em relação ao mês anterior. Os analistas lembram que parte do reajuste do mínimo muitas vezes é usada para pagar dívidas. Com isso, é possível que o efeito do aumento no consumo não se dê no primeiro mês, mas sim nos próximos. Outro ponto importante, como diz o economista Sérgio Vale, da MB Associados, é que o impacto deve ser mais limitado nas grandes regiões metropolitanas, onde pouca gente recebe o mínimo. O efeito deve ser maior, segundo ele, no interior e nas regiões mais pobres do país, onde o dinheiro da aposentadoria é a principal fonte de renda de muitas famílias. Do aumento da massa real de salários, 61% virá dos aposentados do INSS, diz ele. O reajuste do mínimo e a expectativa de continuidade da recuperação do emprego e da renda devem estimular a produção de bens semi e não-duráveis. Vale projeta um crescimento de 5% para a produção desses bens neste ano, acima dos 3,5% que estima para a média da indústria. O diretor do departamento de economia da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), Dênis Ribeiro, acredita que o reajuste do mínimo deve ajudar nas vendas do setor daqui para a frente, embora afirme que o resultado não vai ser excepcional. Muita gente deve usar o dinheiro para quitar dívidas, diz ele, acrescentando que o impacto do aumento tende a perder força depois de dois ou três meses. De qualquer modo, Ribeiro acredita que haverá um efeito positivo sobre a indústria de alimentos. Ele avalia que o consumo de produtos com maior valor agregado, como laticínios, costuma aumentar quando há uma recuperação de renda. Ribeiro estima que o setor vai encerrar o ano com crescimento das vendas reais de 3% a 3,5%.