Título: Políticos pressionam por gasoduto
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2005, Brasil, p. A5

As discussões sobre o mercado brasileiro de gás natural vão sair da esfera técnica e econômica e entrar na agenda política da bancada nordestina no Congresso. Foi esse o recado dado ao governo pelo senador Rodolpho Tourinho (PFL-BA), que disse ter como aliado o senador José Sarney (PMDB-AP). "A hora do gás é agora, não podemos confiar na Bolívia", disse Tourinho, para quem o problema no país vizinho é estrutural e não conjuntural. Ele aproveitou para avisar que não aceita preços maiores para o gás destinado ao Nordeste, questionando ainda os motivos da demora no início da construção do Gasoduto do Nordeste (Gasene) pela Petrobras. "O Nordeste quer o mesmo tratamento do Gasbol (Gasoduto Bolívia Brasil), onde o preço é único em São Paulo ou no Sul. Por que nas regiões menos desenvolvidas tem que ser diferente?", questionou o senador, para em seguida dar seu recado. "A bancada não vai aceitar nenhuma discriminação. E essa questão será tratada politicamente." Tourinho defendeu a elaboração pelo governo do que chamou de "plano de guerra" para aumentar a oferta de gás no Brasil. Além da necessidade de suprir o Nordeste, ele chamou atenção para a necessidade de mais gás para suprir termelétricas e atender a necessidade de ampliar a oferta de energia no país. Na sua avaliação, os vencedores do leilão de energia nova marcado para dezembro levarão muito tempo para construir as novas hidrelétricas. Ele estima que os cálculos e a negociação para financiar esses empreendimentos vai demorar cerca de seis meses. Tourinho participou na sexta-feira de um seminário internacional promovido pela Câmara Britânica no Rio. Com relação ao atraso na elaboração da Lei do Gás pelo governo, a secretária de petróleo e gás do Ministério de Minas e Energia, Maria das Graças Foster, que falou mais cedo e saiu sem ouvir as advertências do senador, trouxe preocupação à indústria quando disse que o campo de Mexilhão tem menos gás do que se previa, o que segundo ela pode atrasar o início do Gasene, já que haverá volume menor de gás para o mercado. "Ao longo dos trabalhos técnicos, os números vêm se confirmando em torno de um volume abaixo do que sonhamos", disse Foster, informando que a avaliação completa do campo deverá ser concluída até setembro. Até lá, o ministério ainda trabalha com a previsão inicial de que as obras do Gasene comecem em 2007. "Se você tem gasoduto, tem que ter suprimento de gás", disse Foster, que também defendeu uma ampliação da capacidade de transporte do Gasbol em 8 milhões de metros cúbicos por dia em 2009. Hoje a capacidade de transporte é de 30 milhões de metros cúbicos. Foster adiantou para os investidores que a proposta do governo para a nova Lei do Gás deve estar pronta antes da Sétima Rodada de licitações, marcada para outubro. (Com Agência Globo