Título: Nanotecnologia já gera oportunidades de negócio
Autor: Ricardo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2005, Tecnologia & Telecomunicações, p. B3

Pesquisa Plásticos que não derretem no fogo, tinta para carros à prova de riscos, materiais flexíveis e leves mais resistentes do que aço. Parecem ingredientes de um filme de ficção científica, mas são exemplos reais do que a nanotecnologia - técnica que permite manipular moléculas e átomos - já está fazendo. O lado fascinante desse campo de estudo, cujo nome vem do grego "nano" (muito pequeno, anão), é a capacidade de alterar as propriedades de diversos materiais por meio das chamadas nanopartículas - tão microscópicas que em uma colher de sopa cabe o suficiente para distribuir 3 milhões delas a cada habitante do planeta. Não menos interessantes são as aplicações comerciais que essas técnicas começam a proporcionar, sobretudo em países como Estados Unidos, Japão e Alemanha, líderes nesse campo de estudos. Abrir os olhos dos empresários brasileiros de diversos setores sobre as oportunidades da nanotecnologia é justamente a proposta do Congresso Internacional de Nanotecnologia (Nanotec 2005) e da Exposição de Projetos, Produtos e Materiais Nanotecnológicos, que ocorrem de 5 a 8 de julho em São Paulo. "O empresário brasileiro acha que isso não é para ele. Não compreendeu que produtos nanoestruturados estarão competindo no mercado nacional em pouco tempo", afirma Ronaldo Marchese, promotor do evento e sócio da RJR Consultores. "Lá fora as empresas estão patenteando soluções nanotecnológicas e no Brasil ainda pensam que é algo futurista." Se a tecnologia trabalha com partículas minúsculas, as cifras envolvidas nesse mercado já são bem visíveis a olho nu. Embora as estimativas sejam imprecisas e apresentem discrepâncias, Marchese diz que os investimentos mundiais na área ficaram em torno de US$ 70 bilhões em 2004, com pouco mais de 10% disso vindo de governos e o restante de empresas privadas. Dinheiro que está formando as bases do que será em 15 anos um mercado de US$ 1 trilhão em produtos que empregam nanotecnologia, se as previsões da Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos estiverem corretas. Uma gama de produtos que empregam nanotecnologia já está disponível no mercado, embora o consumidor nem imagine que a tecnologia está presente quando adquire esses itens. É o caso de algumas roupas de ginástica e uniformes de equipes esportivas feitos com materiais ultraleves que se mantêm sempre secos, ou de cosméticos que utilizam nanocápsulas. Nos próximos anos, o número de exemplos aumentará exponencialmente em todo os setores, com destaque para as indústrias químicas e petroquímicas, farmacêutica e têxtil. Para Marchese, a nanotecnologia representa, em igual medida, um risco e uma oportunidade para os empresários brasileiros. À medida que essas técnicas se disseminam, surgem novos campos de atuação para algumas companhias, mas também competidores que antes não existiam. "A nanotecnologia gera uma substituição muito interessante. Plásticos tomarão o lugar de metais, bens de consumo vão agregar benefícios. Nesse processo, algumas empresas deixarão de existir, outras encontrarão novos mercados ", diz. Exemplos reais disso são os plásticos que resistem a altas temperaturas e uma geladeira fabricada na Coréia com um material à prova de fungos e bactérias. Ou o vidro nanoestruturado, desenvolvido de forma a aproximar as partículas que o compõem. Embora o vidro convencional pareça liso a olho nu, em escala microscópica ele é bastante poroso. É justamente nesses poros que as gotas de água e de poeira se agarram. Se usada em automóveis, a versão nanoestruturada dispensa completamente o limpador de pára-brisas. Ainda na indústria automobilística, a Mercedes-Benz testa uma tinta com nanopartículas de cerâmica. A pintura será resistente como um prato cerâmico, que não risca quando se corta um bife com uma faca afiada sobre ele. Marchese acredita que o Brasil possui uma comunidade atuante de pesquisadores que trabalham com experiências de nanotecnologia. Segundo ele, há cerca de 1,2 mil cientistas atuando nessa área no país em uma estimativa conservadora. "Na parte científica estamos relativamente bem, apesar da escassez de recursos. O lado mais preocupante é o dos empresários", afirma. O promotor da Nanotec afirma que as restrições de investimentos se devem ao desconhecimento das aplicações comerciais iminentes. Além disso, as multinacionais preferem manter as pesquisas em suas matrizes para reter a inteligência. Outro fator que atravanca o mercado é o receio de que seriam necessários muitos recursos para realizar pesquisas na área. "Isso é um mito. Há projetos caros, mas a produção de materiais nanoestruturados pode ser barata."