Título: Mulher ouve médico para comprar creme
Autor: Heloisa Magalhães
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2005, Empresas, p. B7

Comportamento Cosméticos com "cara" de remédio ganham espaço maior nas prateleiras das farmácias

Os cremes para o rosto e para tratamento da pele de uso cosmético, mas com embalagens que lembram as de remédios, estão ganhando mais espaço nas prateleiras das farmácias e drogarias. Sua presença indica uma importante mudança no perfil de consumo das mulheres, em especial entre as compradoras das classes A e B que, para cuidar da pele, vêm optando pela orientação médica ao invés de ser influenciada fundamentalmente pelas marcas consagradas. Por trás desse novo negócio estão grandes multinacionais, como a francesa L'Oréal, dona da Vichy e La Roche Posay, e a americana Johnson & Johnson, que vende a linha Roc. Mas essas gigantes estrangeiras não estão sozinhas no mercado. O laboratório brasileiro Gross, por exemplo, trouxe da França a linha Uriage. O cosmético com "cara" de remédio é chamado de dermocosmético pela L'Oréal. A J&J, por sua vez, aborda o produto através do "conceito de cosmecêutico". Neologismos à parte, o marketing desse novo produto, que procura destacar a comprovação científica de seus resultados, é feito junto aos dermatologistas e médicos. Não há distribuição em perfumarias ou lojas de departamentos. É vendido apenas em farmácias e drogarias. Nos Estados Unidos, a penetração desse novo tipo de cosmético é menor do que na Europa, onde virou uma febre, diz o gerente de produtos da Roc, Marcelo Scatolini. A Johnson & Johnson comprou a francesa Roc, especializada em dermocosméticos, em 1994. Essa linha começou a chegar ao Brasil em 2002. Mas os produtos de proteção solar da Roc são fabricados no país. Scatolini observa que o brasileiro tem know how nessa área e que "um grande centro de pesquisa e desenvolvimento da Johnson está no Brasil." Não é o caso da Roc, mas a maioria dos dermocosméticos é fabricada a partir de águas termais. Buscam melhorar a aparência, proteger e conservar a pele. O foco principal é no combate à celulite e em cremes para retardar o envelhecimento, hidratar e limpar. "A tradição da mulher brasileira é de cuidar muito dos cabelos e pouco da pele do rosto. Não tem muita preocupação e o uso do protetor solar é recente. A maior parte usa hidratantes mas apenas para o corpo. Nosso trabalho será de educar a consumidora mas chegando ao mercado por meio do dermatologista ", explica a diretora da marca Vichy, Patrícia Gomes. Ela admite que, devido aos preços mais altos, inflacionados também devido à importação, o alvo da linha Vichy para pele, rosto e cabelo é a mulher das classes A e B. São estas que estão desenvolvendo o hábito de buscar no dermatologista indicações para o cuidado da pele. Mas o grupo francês está estudando o lançamento de linha para homens. A família Vichy está em 600 farmácias pelo país, em especial no no Sul e no Sudeste, além de Brasília, Goiânia, Campo Grande, Fortaleza e Natal. A L'Oréal não divulga montante de vendas. Scatolini, da Johnson, diz que as vendas da Roc no ano passado registraram crescimento de 83% frente a 2003. Ele não considera como concorrentes, porque não são dermatológicos, os tradicionais cosméticos da L'Oréal como Lancôme, Helena Rubinstein, Garnier, L'Oréal de Paris ou os da Natura, Avon, Nivea e Boticário. O presidente da Associação Brasileira da Indústria e Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), João Carlos Basílio da Silva, informa que o segmento de produtos de cuidados com a pele, em geral, tem tido expansão significativa no país: " Saímos de 25.500 toneladas em 2000 e fechamos 2004 com 34.900 toneladas. Existem diversas explicações. Entre elas, estão os preços que caíram significativamente. Há dez anos, um creme de rejuvenescimento fabricado no país custava entre US$ 40 a US$ 50. Hoje existem produtos que custam no máximo US$ 15. Uma queda de quase 60%", diz. Ainda não há segmentação dos dermocosméticos nas estatísticas, mas as vendas dos produtos para pele vêm aumentando. " Foram de R$ 495 milhões, sem impostos, em 2000 para R$ 1,114 bilhão em 2004. Crescimento de 125% no período. E quando falo em cuidados com a pele não estão aí os protetores solares e bronzeadores", diz Basílio. Os produtos para o rosto, segundo ele, respondem por 15,1% do volume de cosméticos consumidos no país. Em valor, a fatia é bem maior, de 57,3%. Os produtos para o corpo, por sua vez, representam 73,6% do volume consumido e 34,9% do valor faturado. O laboratório brasileiro Gross, há 80 anos no mercado, também aposta nos dermocosméticos. A empresa queria entrar no segmento de cosméticos e em março iniciou a importação da linha Uriage. Ela é fabricada a partir de água termal dos Alpes franceses, na cidade de Uriage, onde há um hospital dermatológico, informa Marcelo Monges, gerente do produto. O preço médio dos produtos importados pelo Gross, indicados para acne, envelhecimento e proteção solar, é R$ 75,00. Já estão em 150 pontos de venda (farmácias e drogarias).