Título: Demanda vai forçar mais investimentos
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2005, Empresas, p. B9

Petróleo Desafio é equacionar ritmo de produção ao consumo em alta desde 2003 nos próximos 30 anos

Em meio ao crescimento de demanda por combustíveis e de fortes oscilações de preço, as companhias petrolíferas vão encarar pela frente dois grandes desafios: equacionar sua produção às perspectivas de consumo dos próximos anos e descobrir reservas suficientes para garantir o desenvolvimento sustentável da atividade. Tudo isso, num cenário em que especialistas não conseguem desenhar claramente um futuro para a commodity. Estimativas da IBM Business Consulting Services mostram que até 2030 a demanda mundial saltará dos atuais 83 milhões de barris diários para 122 milhões. Ainda de acordo com a consultoria, o montante de investimentos esperados no setor é de até US$ 5 trilhões no período, distribuídos por toda a cadeia. O problema, de acordo com especialistas, é adequar o leque de investimentos - que demora anos para maturar - à velocidade do aumento de consumo. Por enquanto, o mundo parece ávido por petróleo. No ano passado, a demanda atingiu pela primeira vez a marca dos 80 milhões de barris diários, mantendo-se atualmente em 83 milhões, de acordo com informações do anuário estatístico da British Petroleum (BP). O crescimento da demanda atingiu 4,5% em comparação com 2003. Para este ano, a expectativa é uma alta de 2,1%, puxada pela China e Índia. Os níveis de refino mantêm-se perigosamente próximos aos de consumo. Consequentemente, os preços também chegaram a patamares inéditos. Na última semana de junho, a cotação do Brent chegou aos US$ 60, arrefecendo dias depois na marca pouco acima de US$ 55. Ainda assim, valores graúdos para um custo de extração médio não ultrapassam US$ 6 por barril. Mesmo com margens gordas, as petrolíferas tentam traçar projeções de médio e longo prazos, em que investimentos realizados hoje levam de cinco a dez anos para ficarem prontos. Nesse intervalo, conflitos geopolíticos (principalmente no Oriente Médio), problemas climáticos (furacões próximos ao Golfo do México, um dos principais fornecedores dos EUA) e o desaquecimento econômico mundial podem empurrar as receitas tanto para o alto como para o chão. "Uma economia mais fraca poderia colocar o preço do óleo em seus devidos patamares", afirmou Sergei Beserra, consultor da área de petróleo e gás da IBM. A questão é adivinhar qual é o "devido patamar de preço" e em que ponto a situação é de aperto. Nos níveis atuais de consumo as reservas mundiais, de 1,18 trilhão de barris, durariam de 30 a 40 anos, caso não sejam repostas. Para Gina Montone, analista do setor de petróleo da corretora do Banco Real, os atuais preços da commodity no mercado justificariam a prospecção em novas áreas. "Por enquanto, as petrolíferas ainda não sinalizam com uma corrida frenética por reservas", disse. O robusto caixa das empresas, dizem os analistas, já seria suficiente para arcar com custos de pesquisas em águas ultra-profundas (além de 4 mil metros de profundidade) e a exploração de reservas que não eram consideradas economicamente viáveis, como as descobertas em terrenos arenosos em Alberta, no Canadá, e óleos extra-pesados no Golfo do México, que exigem complexos sistemas de refino. Beserra, da IBM, alertou ainda para a urgência em desenvolver sistemas mais avançados de prospecção e produção, para minimizar custos e aproveitar melhor os campos em exploração. Os recursos técnicos disponíveis atualmente garantem acesso a apenas 60% do potencial do campo explorado. "O ambiente de negócios no futuro aponta para uma interdependência cada vez maior entre as companhias petrolíferas. Elas tendem a formalizar parcerias para minimizar riscos em todas as etapas da atividade", afirmou. A competitividade das principais petrolíferas vai depender também da melhoria dos métodos de produção. Há uma preocupação entre as petrolíferas para reduzir o "lifting cost" (custo de extração, incluindo os royalties). A própria Petrobras, de acordo com os estudos da corretora do Banco Real, tem como meta reduzir seu "lifting cost" dos atuais US$ 4,30 para US$ 3 o barril nos próximos cinco anos. Entretanto, os investimentos médios do setor petrolífero são considerados tímidos pelos analistas. Em 2004, os aportes em tecnologia da informação corresponderam a 2% da receita total, enquanto as instituições financeiras investiram 6,87% do faturamento total, e transportes, 4,33%. Esses números foram extraídos pela IBM de um estudo do Meta Group. Ainda conforme os especialistas, a manutenção dos preços em alta também serão um incentivo ao desenvolvimento pelas petrolíferas de novas alternativas de combustíveis, bem como a ampliação do uso do gás. Entre as apostas estão biocombustíveis, as energias solar e eólica e a célula de hidrogênio