Título: Jantar testa aceitação de déficit nominal zero
Autor: Claudia Safatle
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2005, Brasil, p. A3

A proposta de um "choque fiscal" para "zerar" em poucos anos o déficit nominal das contas públicas passa, hoje, pelo seu primeiro teste. Os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, do Planejamento, Paulo Bernardo, e Dilma Rousseff, da Casa Civil, participam de um jantar com 16 grandes empresários, 6 senadores e 13 deputados, onde um novo programa fiscal será debatido. A proposta, originalmente defendida pelo deputado Delfim Netto (PP-SP), foi apresentada há cerca de um mês ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Atraído pela idéia, que embute a promessa de que um choque fiscal dessa magnitude permitiria derrubar a taxa básica de juros dos atuais 13% reais para a casa dos 6% reais, em poucos meses, o presidente pediu para Delfim discutir com a equipe econômica e viabilizar apoio político à proposta. Não se pode dizer que toda a equipe de economistas do governo esteja totalmente confortável com a discussão. Há receios, tanto no Ministério da Fazenda, encarregado de cumprir as metas fiscais, quanto no Banco Central, a quem cabe administrar a taxa de juros no regime de metas para a inflação. Hoje à noite, porém, Palocci, Paulo Bernardo e Delfim poderão testar se há condições de prosseguir na preparação de uma proposta de emenda constitucional (PEC) para dar credibilidade ao novo programa fiscal, colocado como alternativa à armadilha da política econômica atual, baseada em elevadas taxas de juros e baixo crescimento, e como uma agenda "positiva" frente à crise política. A saída que está sendo apontada por Delfim é singela e ousada: cortar as despesas públicas, gerar saldo nas contas para pagar despesas correntes e juros e dar um choque de produtividade no setor público. "Mesmo cortando a vinculação de receitas, se dermos um choque de gestão na área da saúde, por exemplo, vai acabar faltando doentes", arrisca o deputado. Se os sinais dos participantes do jantar de hoje forem de aprovação, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) organizará um seminário sobre o tema em agosto. Estão na lista de convidados: empresários: Paulo Skaf (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo-Fiesp), Antônio Ermírio de Moraes (Votorantim); Antônio de Salvo (Confederação Nacional da Agricultura-CNA); Antônio de Oliveira Santos (Confederação Nacional do Comércio-CNC); Benjamin Steinbruch (CSN); Fernando Botelho (Camargo Corrêa); Ivoncy Iochpe (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial-Iedi); João Guilherme Ometto (Grupo Iracema São Martinho); Jorge Gerdau (Gerdau); Josué Gomes da Silva (Coteminas); Márcio Cypriano (Bradesco); José Safra (Safra); Pedro Ribeiro Novis (Braskem); Pedro Moreira Sales (Unibanco); Roberto Setúbal (Itaú); e Rogelio Golfarb (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos-Anfavea). Senadores: Aloizio Mercadante (PT-SP); Delcídio Amaral (PT-MS), Fernando Bezerra (PTB-RN), Renan Calheiros (PMDB-AL), Rodolpho Tourinho Neto (PFL-BA), Tasso Jereissati (PSDB-CE); Deputados federais: Armando Monteiro (PTB-PE); Carlito Merss (PT-SC), Custodio Mattos (PSDB-MG), Eliseu Resende (PFL-MG), Fernando Gabeira (PV-RJ), Francisco Dornelles (PP-RJ), João Almeida (PSDB-BA), Júlio Semeghini (PSDB-SP), Pauderney Avelino (PFL-AM), Roberto Brandt (PFL-MG), Sérgio Miranda (PC do B-MG) e Vilmar Rocha (PFL-GO).