Título: Brasil e Argentina discutem na sexta-feira criação de salvaguardas
Autor: Paulo Braga e Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2005, Brasil, p. A3

Brasil e Argentina devem começar a discutir esta semana a adoção das chamadas Cláusulas de Adaptação Competitiva (CAC), propostas pelo país vizinho para limitar o comércio bilateral nos setores nos quais haja conflito. Uma fonte do governo argentino disse ao Valor que o assunto será tratado nesta sexta-feira entre o secretário de Indústria argentino, Miguel Peirano, e o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Márcio Fortes. Peirano estará no Rio de Janeiro na quinta-feira para o encontro da comissão de monitoramento do comércio bilateral e vai aproveitar a viagem para discutir com Fortes a criação das salvaguardas. Fortes, porém, disse que a discussão sobre as CACs com os argentinos será conduzida pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) e não por ele. Na reunião de quinta, a expectativa é que seja definido mais um acordo de limitação das exportações brasileiras, desta vez em calçados. No dia 23, Peirano disse que considerava "razoável" que em duas semanas os setores privados dos dois países chegassem a um acordo. O prazo termina justamente na quinta-feira. Na discussão sobre salvaguardas, os dois funcionários devem começar a traçar as regras para estabelecer as cotas de importação para os chamados produtos sensíveis, como têxteis, eletrodomésticos e calçados, nos quais a Argentina alega haver excesso de exportações brasileiras. Antes, o Brasil se negava a discutir esse tipo de mecanismo, mas mudou de posição e agora aceita debater a questão. Ao mesmo tempo, permanece no governo brasileiro a resistência em relação a outra idéia da Argentina, a de acionar uma salvaguarda "gatilho" em caso de desvalorização ou defasagem entre os ciclos econômicos dos dois países. Em calçados, é quase certo que os fabricantes brasileiros tenham de aceitar um acordo de limitação de exportações. O presidente da associação de importadores de calçados da Argentina, Juan Dumas, considera o acordo praticamente inevitável devido à ameaça de que o governo imponha travas unilaterais às exportações brasileiras. Apesar disso, ele disse que o pacto não se justifica, porque ocorreria no momento em que "as exportações de calçado brasileiro à Argentina estão caindo sozinhas".