Título: Denúncia contra pemedebista e crise no PT afetam reforma ministerial
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2005, Política, p. A8

SÃO PAULO - As denúncias divulgadas no fim de semana envolvendo o líder do PMDB na Câmara, José Borba (PR) no escândalo do mensalão e a crise na cúpula do PT devem mudar o cenário da reforma ministerial. Como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja amanhã para o Reino Unido, é provável que o anúncio seja feito hoje. Ontem à noite, Lula reuniu-se com o ex-presidente e senador José Sarney (AP) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para debater a questão. O PMDB não aceitou ficar com três ministérios e Lula, Sarney e Renan ficaram de ter uma nova conversa na manhã de hoje.

Com as cotas do PMDB e do PT na equipe sendo revistas, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, ganha sobrevida, segundo informam articuladores da base aliada no Congresso. O presidente do BC, que tem status de ministro, deve de fato deixar o governo, mas não nesta ocasião. O nome mais provável para substituí-lo continua sendo o do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal.

No PMDB, Borba ficou " inacessível " ontem aos deputados, segundo afirmou Gastão Vieira (MA), do grupo sarneyzista. Esteve ontem com o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna, e com o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), para admitir que teria estado de fato no escritório do Banco Rural em Brasília onde o publicitário Marcos Valério fazia altas retiradas de dinheiro, conforme divulgou o telejornal Fantástico, da TV Globo, no domingo. Segundo Suassuna, Borba disse que seus contatos com Valério datam de 2003, quando ainda não era líder da bancada, e estavam relacionados a negócios particulares.

A permanência de Borba como líder, sempre muito contestada dentro do PMDB, é dada como remota. O paranaense deve se explicar publicamente hoje, mas a pressão para removê-lo ultrapassou a tradicional oposição do grupo ligado ao ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, e ao PSDB.

O parlamentar pode ficar mais algum tempo à frente da bancada, contudo, porque sua substituição abriria uma disputa no partido e os pemedebistas temem ceder espaço na reforma ministerial para o PP em função do episódio. Ontem à noite , estava previsto um encontro de Borba com o presidente da sigla, Michel Temer.

Em relação às outras duas indicações do partido, a de Silas Rondeau para Minas e Energia e do senador Hélio Costa (MG) para Comunicações, a cúpula pemedebista manteve contatos com o presidente Lula para transmitir que o partido quer que o mineiro vá para o lugar do ministro Eunício Oliveira e não aceita abrir mão desta pauta.

A reforma ministerial também se entrelaça com a crise petista caso o comando do partido decida que o presidente da sigla, José Genoino Neto, deva se afastar do cargo. Nesta hipótese, Genoino seria substituído por um ministro petista. São mencionados Ricardo Berzoini (Trabalho), Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Olívio Dutra (Cidades). Hoje o PT deve promover uma reunião da Executiva Nacional da sigla para discutir o tema.

A indefinição sobre a reforma esvaziou a comitiva ministerial de Lula, que irá a Edimburgo, na Escócia, como um dos chefes de estado convidados para a reunião com os países do G-8, onde serão discutidos temas como combate à fome e mudanças climáticas. Estão confirmados na comitiva do presidente apenas o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.

Será a segunda vez que Lula participa da reunião do G-8 . Antes, o presidente brasileiro já havia participado da cúpula realizada em 2003 na cidade francesa de Evian. Na semana passada, o presidente chegou a cancelar a viagem que faria a Colômbia e Venezuela por causa da crise política. Desta vez, Lula vai ficar apenas um dia em Gleneagles, sede da cúpula, e não dormirá na cidade. Mas, na próxima semana, o presidente vai ficar quatro dias em Paris para a semana brasileira na França