Título: Relator da CPI admite convocar Genoino
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2005, Política, p. A8

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), admitiu ontem que a convocação do presidente do PT, José Genoino, e o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, pode ser inevitável diante dos últimos fatos que comprovam a ligação do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza com os dirigentes petistas. Valério é acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser um dos operadores do chamado mensalão. A decisão sobre o depoimento dos petistas dependerá dos rumos do depoimento de Marcos Valério, amanhã, na CPI. "Na lógica que Marcos Valério é fornecedor de serviços aos Correios e que ele foi o avalista de um empréstimo do PT, é plausível convocar os dois (Genoíno e Delúbio)", disse o relator. Serraglio também admitiu que o publicitário será inquirido sobre os detalhes da operação financeira com o PT. Embora insista que até o momento o foco da CPI é a denúncia de corrupção nos Correios, o relator da comissão confirma que questionará Valério sobre o motivo de tantos saques em dinheiro e sobre as razões para avalizar um empréstimo de cerca R$ 2,4 milhões ao PT. "Tudo isso é muito estranho", disse. Preocupado com as conseqüências de seu depoimento, Valério apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF), ontem, um pedido preventivo de habeas corpus. Isso significa que o publicitário quer evitar ordem de prisão durante o depoimento, já que a CPI tem poder de polícia. Até o fechamento desta edição, o pedido não tinha sido avaliado pelo STF. Diante das denúncias envolvendo Marcos Valério, os parlamentares da CPI consideram inevitável que as investigações se estendam para o mensalão. Até mesmo os petistas, que antes recusavam veementemente a convocação de Delúbio Soares, agora minimizam o fato. "A convocação (de Delúbio) depende de uma análise dos integrantes da CPI", disse o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). "Em algum momento Delúbio deverá ser convocado, só que é preciso definir precisamente o papel de cada um dos fóruns de investigação", concluiu o deputado Jorge Bittar (PT-RJ), membro da CPI. Permanece ainda no Congresso a dúvida se será criada ou não uma CPI exclusiva para apurar as denúncias do mensalão. "Precisamos de uma definição clara se será instalada a CPI do Mensalão, pois, do contrário, é claro que a CPI dos Correios terá de investigar todas as denúncias", disse Serraglio. A CPI Mista do Mensalão deverá ser oficialmente criada hoje, em sessão conjunta do Congresso. O governo, entretanto, dá prosseguimento à estratégia de instalar somente na Câmara a CPI da compra de votos, que estenderia as investigações às denúncias de suposta compra de parlamentares na votação da emenda constitucional que permitiu a reeleição de presidente, governadores e prefeitos. Para instalar a CPI somente na Câmara, os deputados precisam votar e aprovar um projeto de resolução, que já está na pauta. O problema é que antes disso precisa ser apreciada uma medida provisória. A oposição, como é contra a extensão das apurações para o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, decidiu obstruir as votações. O governo, por sua vez, decidiu ontem retirar a urgência constitucional de outros dois projetos de lei que também estavam na pauta e teriam prioridade de votação sobre esse projeto de resolução. Os aliados já começam a questionar a viabilidade política da CPI da Compra de Votos. "A decisão de fazer essa CPI foi fruto da articulação de cinco ou seis e, como sempre, não discutiram com a base", reclamou um aliado do governo. Caso o mensalão seja apurado na CPI dos Correios, o relator também admite a convocação do líder do PMDB na Câmara, José Borba (PR). Borba foi denunciado como recebedor do mensalão. Ele também não descartou a possibilidade de uma acareação entre José Dirceu e Roberto Jefferson. "Temos que aguardar o rumo das investigações", disse. (HGB, MLD, TVJ