Título: Sílvio Pereira pede licença da Executiva petista
Autor: Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2005, Política, p. A9

O secretário-nacional do PT, Sílvio Pereira, entregou ontem uma carta ao presidente do partido, José Genoino, na qual pediu licença da Executiva Nacional e de todas as atividades partidárias até que as investigações das CPIs em Brasília sejam concluídas. Outra carta foi entregue ao secretário nacional de Organização, Gleber Naime, em que solicita a apuração de todas as denúncias que envolvem seu nome, com a ressalva de que seja estabelecido um prazo para início e término desse processo interno do partido. Pereira é acusado pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) de negociar nomeações de cargos em estatais em uma sala reservada no Palácio do Planalto e de ter conhecimento do mensalão, suposto pagamento de propina a deputados federais da base aliada em troca de apoio ao governo no Congresso. Sua saída é a primeira baixa no PT desde o início das denúncias. Hoje, os 21 integrantes da Executiva se reúnem na sede do diretório nacional, em São Paulo, para discutir a situação da crise política, agravada no sábado com a revelação da revista "Veja" de que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado por Jefferson como operador do mensalão, foi avalista de um empréstimo de R$ 2,4 milhões do banco BMG ao PT. Além de ser avalista, Valério também pagou uma das parcelas desse empréstimo, de R$ 350 mil. Assinaram o contrato Delúbio Soares e Genoino. Há expectativa no partido de uma recomposição da Executiva. Delúbio deve apresentar seu afastamento hoje, hipótese que ganha força após a saída de Pereira. "Isso é um ato voluntário, uma coisa exclusiva do companheiro Delúbio. Ele está refletindo e avaliando e vai tomar uma posição", disse o deputado João Paulo Cunha (PT-SP). Ainda que o tesoureiro não saia voluntariamente, o pedido de seu afastamento será apresentado hoje. "A permanência de Delúbio no partido é uma questão que prejudica a nossa imagem. Eu vou propor na Executiva amanhã (hoje) que ele se afaste imediatamente. Não há mais como ele sustentar a tese de que não conhecia o Marcos Valério. Essa questão, para mim, já está resolvida. O Delúbio já tinha que ter saído no sábado quando a revista saiu. Me parece que ele não tem a grandeza nem a sensatez de saber que a permanência dele no PT prejudica os demais no partido", disse o secretário nacional de mobilização do PT, Francisco Campos, que faz parte da Executiva. O mesmo tratamento não deve ter Genoino, que deverá permanecer no cargo apesar das pressões que sofre para deixá-lo. "A permanência dele é melhor para o partido. Essa onda de especulações sobre sua saída visa desestabilizar a direção do partido, em um momento que é delicado. Além disso, ele explicou o que aconteceu. Ele assinou um empréstimo e não tinha conhecimento de quem era o avalista", afirmou Valter Pomar, terceiro vice-presidente da sigla e candidato da tendência Articulação de Esquerda, um dos adversários de Genoino nas eleições de setembro. Apesar disso, Pomar disse que a Executiva deverá passar por uma recomposição, com a substituição por alguns integrantes. Genoino se manteria no cargo até a reunião do diretório neste sábado. Na ocasião, seria eleita uma comissão provisória para dirigir o PT até as eleições internas. Também é debatida a hipótese de as eleições serem adiadas para depois dos trabalhos das CPIs.