Título: Oposição fecha cerco a tesoureiro petista
Autor: Daniela Lima
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2010, Política, p. 4

eleições

Após aprovar convite para Vaccari Neto depor na Comissão de Direitos Humanos, PSDB e DEM convocam acusado de fazer caixa dois do PT para prestar esclarecimentos em CPI do Senado

A oposição orquestrou uma plano no Senado para expor, em sessão de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Casa, o mais recente escândalo que conta com ingredientes mágicos para movimentar um ano eleitoral: petistas e propina. Ontem, quando nenhum senador do PT compareceu à reunião da CPI das ONGs, os oposicionistas aprovaram requerimento para convocar João Vaccari Neto, tesoureiro dos cofres petistas e pivô das denúncias que envolvem a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) a depor no Senado. É a segunda manobra em dois dias: na quarta-feira, a Comissão de Direitos Humanos também aprovou convite ao tesoureiro. Vaccari irá falar na CPI sobre as denúncias de desvios na aplicação de recursos de fundos de pensão públicos e das contas da Bancoop, entidade que presidiu por anos. O promotor de Justiça José Carlos Blat, responsável pela investigação do caso no Ministério Público (MP) de São Paulo; o corretor de câmbio Lúcio Bolonha Funaro; e Hélio Malheiro, que denunciou o desvio de dinheiro da cooperativa para financiamento de caixa dois de campanhas eleitorais, também falarão aos integrantes da CPI. O depoimento do tesoureiro do PT é um prato cheio para a oposição. Desde que o conteúdo de investigações promovidas pelo MP de São Paulo e pela Procuradoria-Geral da República vieram à tona (leia para saber mais), parlamentares do DEM e do PSDB, que polarizam a disputa com o PT nas eleições deste ano, começaram a explorar o suposto esquema armado para saquear os cofres da Bancoop e abastecer o caixa de campanhas petistas, inclusive a de Lula, em 2002. O requerimento de convocação dos envolvidos no escândalo aprovado ontem é de autoria do senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Para garantir a aprovação do documento, o mesmo requerimento foi apresentado em quatro comissões da casa na CPI das ONGs, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), na de Direitos Humanos (CDH), e na de Fiscalização e Controle. Antes de elaborar o requerimento de convocação de Vaccari e demais envolvidos no escândalo, tucanos entraram em contato com o promotor Blat para saber se havia disposição da parte dele em colaborar com a CPI. Não temos esperança de que esses depoimentos estejam no relatório final da CPI, que é comandada pelo governo. Tudo o que for dito aqui servirá para colaborar com as apurações do Ministério Público, afirmou Álvaro Dias.

Impacto

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que exerce interinamente a liderança do PT na Casa, tentou minimizar o impacto da convocação, mas afirmou que a oposição tenta ampliar o escândalo da Bancoop para que ele respingue nas campanhas eleitorais. Já estava definido, com a liderança do governo e a liderança do PT, que o Vaccari e quem mais fosse necessário viria ao Congresso para prestar os esclarecimentos. A oposição quer fazer disso um episódio de campanha. E, para isso, está colocando todos os dentes e um pouco de saliva no canto da boca, para abocanhar o máximo possível nessa história, avaliou Suplicy. O senador estava na Casa ontem durante a aprovação do requerimento na CPI das ONGs, da qual é membro. No entanto, estava presidindo os trabalhos de outra comissão, a CCJ, no momento em que a convocação de Vaccari foi aprovada. Ontem, o senador Demostenes Torres (DEM-GO), que é o presidente da CCJ, perguntou se eu não poderia presidir a sessão. Quero crer que isso não foi orquestrado, disse Suplicy. Demostenes, senador do Democratas, partido de oposição ao PT, negou qualquer articulação que visasse tirar Suplicy do plenário da CPI das ONGs. Na CCJ havia uma audiência pública proposta por ele (Suplicy), e o vice-presidente da comissão não poderia presidir. O convidei por isso. O resto é teoria da conspiração, rechaçou. Demostenes estava ontem em São Paulo, em encontro com o prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab (DEM).