Título: Borba compromete PT e Michel Temer com Marcos Valé
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2005, Brasil, p. A7

Depois de dois dias de conversas isoladas com a cúpula de seu partido, o líder do PMDB na Câmara, deputado José Borba (PR) divulgou no fim da tarde de ontem uma nota oficial que compromete o PT e o presidente pemedebista, deputado Michel Temer (SP), com o publicitário Marcos Valério, suspeito de ser o operador do mensalão. A nota teve efeitos imediatos na situação do deputado: o paranaense foi forçado a concordar, no fim da noite de ontem, em deixar a liderança, e deverá ser convocado para depor no Conselho de Ética da Casa. Na nota oficial, Borba nega ter recebido dinheiro de Valério, quando esteve no escritório do Banco Rural em Brasília, em dezembro de 2003. Mas afirma que o publicitário "fazia parte do grupo do PT, que exercia efetiva influência político-administrativa junto ao governo federal". O paranaense avança no parágrafo seguinte ao dizer que tratava de ocupação de cargos no governo com Valério e integrantes da Executiva Nacional petista. "O que discuti com dirigentes do PT e do Marcos Valério é o que lideranças partidárias discutem hoje e sempre discutiram em todos os governos, a nomeação de seus partidários para cargos na administração". Encerrando, Borba busca colocar Temer no centro do escândalo. "Um dos poucos sucessos nas tratativas com o mesmo grupo foi para a presidência dos Correios, por indicação do deputado Michel Temer, presidente nacional do PMDB, com a qual fui solidário, na nomeação do ilustre companheiro João Henrique, que antes, pela mesma indicação, já havia exercido o cargo de ministro dos Transportes no governo Fernando Henrique". A oposição ao governo federal tirou proveito imediato da iniciativa de Borba. O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), pediu que o Conselho de Ética da Casa investigue o caso, que classificou de "chocante" e "de gravidade poucas vezes vista nesta Casa". O pedido foi aceito. Borba esteve anteontem com o ex-presidente e senador José Sarney (AP), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o líder da bancada no Senado, Ney Suassuna (PB) e com Temer, em reuniões separadas. A todos, disse que conhecia Valério superficialmente, que não era líder do PMDB na época e que esteve no Banco Rural para resolver assuntos particulares. Ao longo das últimas 48 horas, diversas lideranças do partido começaram a articular o afastamento de Borba da liderança, dado que este tinha admitido ter ligações com Valério. O deputado gaúcho Cezar Schirmer começou a elaborar uma lista entre os integrantes da bancada para conseguir a destituição do paranaense. A liderança seria assumida provisoriamente por um dos vice-líderes, já que o partido marcou para o dia 10 de agosto a eleição de um substituto para Borba. Com o PMDB negociando o aumento da sua participação no ministério, Borba perdeu o apoio até da ala governista da sigla. Questionado sobre o ataque de Borba, Temer admitiu que de fato fez a indicação de João Henrique e de dois outros ex-deputados, Jorge Tadeu Mudalen e Damião Feliciano, ao ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, no começo de 2004. Ao longo do ano, se afastou do Planalto, comandou uma convenção que votou o rompimento da sigla com o governo e até mandou um ofício ao Tribunal Regional Eleitoral do Piauí pedindo a desfiliação de seu apadrinhado. Temer evitou atacar Borba. "Ele resolveu envolver Valério com os dirigentes do PT, entendendo que isto facilita sua defesa. As suspeitas prejudicam o PMDB como um todo, mas o importante é que o Borba ressaltou que não tem pemedebista recebendo mesada. A tendência é que ele seja afastado da liderança, porque as reportagens contra ele foram muito fortes", disse o dirigente. Depois da repercussão de sua nota, o parlamentar paranaense concordou em se afastar. Seu substituto é o paraibano Wilson Santiago, que ficará interinamente na função. A denúncia de Borba atinge Temer em um momento em que o deputado paulista tenta recompor suas forças diante da ofensiva do governo na reforma ministerial. Com o esperado aumento da participação do PMDB no governo, Temer corre o risco de ficar em minoria na bancada na Câmara. Para contrabalançar esta ofensiva, o deputado conseguiu articular para hoje um almoço com os sete governadores do partido, em sua casa. A expectativa de Temer é que os governadores deixem claro a oposição à participação do partido no governo. "O que ficará claro é que o PMDB, como um todo, não está sendo levado para o governo", disse o presidente da sigla.