Título: Petistas relutam em ceder espaço para pemedebistas
Autor: Raymundo Costa e César Felício
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2005, Brasil, p. A7

Pressões de última hora do PT complicaram as negociações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a cúpula do PMDB para a ampliação do espaço do partido no governo. No início da noite de ontem, Lula reuniu-se com a cúpula pemedebista e com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP) para tentar desatar o nó da reforma ministerial. O PMDB insistia em ficar com quatro ministérios, entre eles os de Saúde e Cidades, mas o PT, a muito custo, só admitia abrir mão de um deles - Saúde. No fim da noite, havia três novos ministros definidos: o senador mineiro Hélio Costa, para as Comunicações, o deputado mineiro Saraiva Felipe, para a Saúde, e o presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau, para Minas e Energia. Os três foram chamados para se encontrar com Lula durante a noite e o anúncio de suas nomeações deve ser feito ainda hoje. O PT também resiste à ida do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, para o Ministério do Trabalho. Aldo é do PCdoB, que disputa espaço dentro da CUT com a Articulação Sindical, vinculada ao PT. Foi em razão destas resistências que Lula encontrou-se no domingo com o presidente da CUT, Luiz Marinho, na Granja do Torto, segundo afirmaram fontes da base aliada. Marinho teria sido alertado que outra opção para a pasta seria a nomeação de um técnico ligado ao deputado Delfim Netto (PP-SP), o que poderia retirar completamente a CUT da formulação de políticas na pasta. Neste formato, a possibilidade de Aldo Rebelo substituir o vice-presidente José Alencar no Ministério da Defesa poderia ressuscitar. No desenho do PMDB, no início da reunião no Planalto, os novos ministros seriam Silas Rondeau, indicado pelo senador José Sarney (AP) para as Minas e Energia, Hélio Costa, nas Comunicações e Saraiva Felipe, na Saúde. Na Pasta de Cidades, o ex-deputado Paulo Lustosa, inicialmente indicado pela bancada do PMDB na Câmara para as Comunicações, perdia força e o nome pemedebista para as Cidades ainda não estava claro na tarde de ontem. Tanto o ainda coordenador político do governo, ministro Aldo Rebelo, quanto o PT resistem a este modelo, e preferem a entrega de apenas três pastas ao PMDB. A resistência do PT à entrega do quarto ministério partiu, principalmente, dos ministros Antonio Palocci (Fazenda), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). A avaliação era de que só a Saúde valeria por três ministérios e que uma cota tão grande para os pemedebistas causaria um desequilíbrio na estrutura de poder dentro do Planalto. Entre os ministros petistas, já está absolutamente decidida a saída dos ministros José Fritsch (Pesca), Ricardo Berzoini (Trabalho), Humberto Costa (Saúde). Do lado pemedebista, foi batido o martelo para a volta de Eunício Oliveira (Comunicações ) e Romero Jucá Filho (Previdência) para o Senado. Este último poderá, se quiser, tornar-se líder do governo no Congresso, no lugar do senador petebista Fernando Bezerra (RN). A vaga de Jucá na Previdência sairá da esfera política: provavelmente será preenchida por um técnico a ser indicado pelo ministro da Fazenda, que possa atuar em sintonia plena com a equipe econômica. A exemplo da Saúde e da Educação, o PT considera Cidades um dos ministérios estratégicos que deveria permanecer nas mãos do partido do presidente, sobretudo pela capacidade do ministério de atender a base municipal. O PMDB é o partido que reúne o maior número de prefeituras, mas o PT dobrou o número de prefeitos na última eleição e passou a ver a pasta como uma reserva estratégica para consolidar seu poder. Já em relação à Saúde, a resistência é menos intensa. O próprio Lula oferecera o Ministério da Saúde ao PMDB, na primeira negociação da reforma ministerial, em março. O próprio Lula ficou intrigado com a indicação de Paulo Lustosa pela bancada do PMDB na Câmara. O presidente argumentou com a cúpula pemedebista, em reunião na noite de segunda-feira passada, de que forma o ministro Eunício Oliveira (Comunicações) deixaria de representar a bancada na Câmara, mas seu secretário-executivo Paulo Lustosa atenderia à demanda dos deputados. Os dirigentes da sigla retrucaram que ele é um "quadro antigo do partido", hoje mais técnico do que político, e que, ao contrário de Eunício, manteve bom relacionamento com a bancada durante esse período. Na verdade, Lustosa não têm passado pemedebista. Fez política no Ceará entre os anos 80 e 90 no PFL, partido que neste Estado manteve uma aliança tática com o PMDB para enfrentar o grupo do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Como Lustosa têm no líder do PMDB na Câmara, José Borba, um de seus principais patronos, a sua substituição por outro nome pemedebista ou a sua retirada da lista de futuros ministros passou a ser bastante provável. (Colaborou Taciana Collet)